Madrilenos aceitam restrições mas muitos questionam a sua extensão

Os habitantes de Madrid aceitam as medidas que restringem a sua mobilidade em determinados bairros, mas estão divididos sobre a questão, havendo muitos que defendem que as limitações deviam ser estendidas a toda a cidade.

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Lusa
28/09/2020 17:33 ‧ 28/09/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

 

"É uma vergonha, e não percebo porque é que estas restrições só abrangem os bairros mais pobres", disse Elena à agência Lusa numa rua movimentada do bairro de Usera, que a partir de hoje faz parte dos abrangidos por medidas mais drásticas de luta contra a pandemia de covid-19.

Mais de um milhão de pessoas, na região de Madrid, só pode sair dos seus bairros para satisfazer necessidades básicas, como ir a centros médicos, trabalhar, estudar ou levar os filhos à escola, cuidar de pessoas dependentes ou para viajar, entre outras.

Numa das entradas de Usera, um posto de controlo da polícia municipal parava, hoje à hora do almoço, a maior parte dos automóveis que pretendiam entrar nesta zona da cidade.

As forças de ordem explicavam as novas regras, apesar de que as multas para os incumpridores ainda não podem ser aplicadas.

"Estou muito preocupado com a situação. Acho que devemos ficar em casa o máximo de tempo possível, mas infelizmente há muitas pessoas, principalmente as mais novas, que não querem saber disto para nada", queixou-se Henrique, de meia idade.

Jardins com poucas pessoas, parques infantis encerrados, esplanadas quase fazias voltaram a ser imagens normais nesta segunda vaga da pandemia, depois das tréguas dadas pela doença em julho e agosto.

No total, quase 15% dos habitantes da região de Madrid de 6,6 milhões de pessoas são agora afetados por estas restrições.

Entretanto, o Governo central espanhol de esquerda, que considera estas medidas insuficientes, entrou num braço de ferro com a comunidade autónoma, dominada pela direita, para a pressionar a adotar medidas mais drásticas, e em toda a comunidade autónoma de Madrid, ameaçando impô-las se for necessário.

Em Espanha, as autoridades regionais têm competência exclusiva em matéria de saúde e o Governo central não tem o poder de lhes determinar as suas decisões em matéria de saúde.

No bairro ao lado de Vallecas, onde as restrições estão em vigor desde a semana passada, Joaquim queixou-se dos políticos que deviam explicar melhor as decisões e estar mais unidos na luta contra a pandemia: "Temos de lutar contra a covid, mas não se pode paralisar a atividade económica", como aconteceu em abril durante duas semanas, sublinhou.

O critério principal para implementar as medidas restritivas da mobilidade tem a ver com a existência de mais de 1.000 novos casos de covid-19 por 100.000 habitantes nas últimas duas semanas.

No bairro de Vallecas, onde há uma percentagem muito elevada de imigrantes, principalmente da América Latina, a Lusa também ouviu muitas críticas ao facto de apenas parte da cidade ter medidas mais restritivas.

Das 45 "zonas básicas de saúde" da região, onde há restrições, há 37 bairros onde as medidas já estão em vigor desde a semana passada, podendo a polícia passar multas que podem ir de 600 a 600.000 euros.

No mercado municipal de Vallecas ao fim da manhã de hoje havia poucos clientes, assim como nas ruas adjacentes. Locais que, antes da pandemia, costumavam estar cheias de pessoas a esta hora do dia.

"Não sei quanto tempo vou conseguir aguentar. Durante o verão parecia que as coisas estavam a voltar à normalidade, mas agora volto a não ganhar para pagar as despesas", disse Eduardo, que tem um talho no mercado.

Restaurantes e bares estão abertos, mas os clientes são escassos. Podem frequentar estes estabelecimentos apenas os habitantes de cada uma das "zonas básicas de saúde" que, no entanto, preferem ficar em casa.

Sujeitas a controlos policiais aleatórios, os habitantes de cada uma das zonas com restrições têm o direito de circular livremente e não estão, portanto, confinadas às suas casas.

Todos os estabelecimentos comerciais, hotéis, restaurantes e serviços não podem exceder 50% da lotação permitida e têm de encerrar às 22 horas, com exceção dos estabelecimentos farmacêuticos, médicos, veterinários, de combustível automóvel e outros considerados essenciais.

Há apenas uma medida que se aplica a toda a população da comunidade autónoma de Madrid: o número máximo de pessoas que se podem reunir é de seis, tanto em espaços públicos como privados, exceto no local de trabalho ou institucional e se estiverem a viver juntas.

O Governo regional também recomenda que todos os habitantes da região limitem todos os seus movimentos aos estritamente necessários.

A Comunidade de Madrid, com 6,6 milhões de habitantes, é a mais atingida pela pandemia de covid-19 em Espanha, que tem cerca de 47 milhões de habitantes.

A região é a que regista mais casos positivos de covid-19 desde o início da pandemia, 213.709 num total nacional de 716.481, e também mais mortes, 9.213 em 31.232 (últimos números, de sexta-feira).

A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 1.957 em Portugal.

Na Europa, o maior número de vítimas mortais regista-se no Reino Unido (41.988 mortos, mais de 434 mil casos), seguindo-se Itália (35.835 mortos, mais de 309 mil casos), França (31.727 mortos, mais de 538 mil casos) e Espanha (31.232 mortos, mais de 716 mil casos).

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