"As alegações de exploração e abuso sexual por parte dos trabalhadores humanitários, que se identificaram como trabalhando para a Organização Mundial de Saúde (OMS) na resposta ao Ébola na RDCongo são profundamente horríveis e desoladoras", afirma Matshidiso Moeti, numa declaração divulgada pela agência das Nações Unidas.
Moeti manifesta o "forte apoio" à decisão do diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, de abrir um "inquérito minucioso das alegações" e compromete-se a "tudo fazer" ao seu alcance "para contribuir e assegurar que uma investigação completa, justa e transparente tenha lugar no mais curto espaço de tempo possível e que quaisquer perpetradores destes atos revoltantes enfrentem consequências graves".
"Trabalharei com os meus colegas na região para salvaguardar os vulneráveis em todas as nossas operações futuras", acrescenta a responsável.
"Além disso, comprometo-me a trabalhar com Tedros para assegurar que quaisquer falhas identificadas pelos investigadores no nosso mecanismo de denúncia de abuso e exploração sexual sejam corrigidas e para que criemos um ambiente que impeça a ocorrência de tais violações nas nossas operações", afirma ainda.
"Toda a minha vida como mulher, médica, líder, mãe e trabalhadora na área da saúde, tenho lutado contra a desigualdade de género, bem como contra o assédio e abuso sexual", escreve Moeti em sua defesa, antes de se manifestar "ao lado de qualquer pessoa que tenha sido vítima de violação sexual durante a resposta ao Ébola no leste da RDCongo".
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) anunciou esta quarta-feira uma investigação aos alegados abusos sexuais contra mulheres na RDCongo no contexto da resposta à epidemia de Ébola, manifestando-se chocada por "pessoas que se tenham apresentado como funcionários" da organização "tenham abusado de mulheres vulneráveis" naquele país.
Também a Organização Internacional para as Migrações (OIM) anunciou na passada terça-feira a realização de um inquérito e, no dia anterior, na terça-feira, a OMS informou que vai investigar as alegações de exploração e agressões sexuais.
Os anúncios surgem depois da publicação, na terça-feira, de uma investigação feita pela agência noticiosa humanitária The New Humanitarian (TNH) e pela Fundação Thomson Reuters.
A investigação, que durou meses, encontrou mais de 50 mulheres que acusam funcionários da OMS e de organizações não-governamentais (ONG) envolvidas na luta contra o Ébola de exploração sexual entre 2018 e 2020.
A República Democrática do Congo está a combater uma nova epidemia de Ébola, a décima primeira a atingir o país, que já provocou 50 mortes desde junho.
A anterior tinha causado 2.287 mortes em 3.470 casos entre agosto de 2018 e junho último.
Para combater a epidemia foram investidos mil milhões de dólares (853 milhões de euros).