Nobel da Química para edição genética é impulso para indústria de biliões
O Nobel da Química para as cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna é "um impulso muito relevante" para a edição genética, disse à Lusa a investigadora portuguesa Cecília Arraiano, que reconhece que é "um negócio de biliões".
© iStock
Mundo Nobel da Química
"Este premio é a coroação de uma descoberta" que tem por trás uma "guerra de patentes" que se arrasta há anos e que, para a investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa pode ter atrasado o reconhecimento.
A história da ferramenta, uma verdadeira "tesoura genética" que permite editar as sequências de ADN onde está inscrito o código da vida, começa com um cientista espanhol, Francis Mojica, que descobriu que as bactérias tinham um sistema imunológico que lhes permitia extirpar os vírus que as atacavam.
Charpentier e Doudna trabalharam sobre esta ideia e, em 2011, publicaram na revista Science um estudo em que demonstravam que esta ferramenta, denominada CRISPR, podia ser usada para fazer cortes específicos em sequências de DNA.
Mas foi em 2012 que uma equipa liderada pelo americano Feng Zhang, ligado ao Massachussets Institute of Technology (MIT), demonstrou que podia aplicar-se às células eucarióticas, as mais complexas, que se encontram em quase todos os seres vivos.
Centenas de patentes foram já registadas para o uso do CRISPR em aplicações que vão da investigação pura à medicina, mas a disputa pelos direitos originais continua a opor Charpentier e a Universidade da Califórnia ao centro Broad do MIT.
Entre as aplicações que a CRISPR já teve estão intervenções nas doenças genéticas, uma forma de prender melhor os tomates aos caules, investigação sobre os genes dos micróbios para os perceber melhor, e "limpeza" de vírus no organismo dos porcos, cujos órgãos têm muitas semelhanças com os dos humanos, o que um dia pode abrir possibilidades revolucionárias no domínio dos transplantes, referiu Cecília Arraiano.
A investigadora destaca que a tecnologia, sobretudo no que toca a intervenções no ADN dos humanos, "coloca problemas éticos, pelo que tem que ter regras".
"É uma área em que não pode ser qualquer um a fazer isto, só em condições laboratoriais muito específicas é que se consegue. E há comités de Ética instalados", referiu.
Cecília Arraiano, que conhece ambas as laureadas, considerou que a atribuição do Nobel já lhes era devida e lembrou que no ano passado já tinha dito a Jennifer Doudna que "era desta".
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com