Numa sessão aberta de uma formação para jornalistas dedicada à presidência portuguesa da União Europeia organizada pela agência Lusa, em colaboração com a Comissão Europeia, o antigo dirigente europeu recordou que avisou várias vezes o então primeiro-ministro britânico David Cameron para não fazer um referendo "porque o risco era muito elevado".
Porém, lamentou, Cameron, o qual sabe que preferia continuar na UE, deixou-se condicionar e "ficou manietado pelo setor eurocético" do partido Conservador.
"É um erro extraordinário. O Reino Unido tem o direito de decidir sair, é perfeitamente legítimo não querer ser membro da União Europeia. (...) Mas o problema no Reino Unido é que o resultado foi exatamente oposto àquilo que os dirigentes pretendiam, o que mostra que é um erro", disse.
"Isto é um dos maiores erros políticos que eu conheço na história contemporânea", considerou o ex-presidente da Comissão Europeia.
Sobre o futuro relacionamento, mostrou-se "confiante" num acordo pós-Brexit devido ao interesse da UE em "manter o Reino Unido tão perto quanto possível", mesmo respeitando o resultado do referendo.
"O Reino Unido é uma potência muito relevante, não apenas do ponto de vista económico. Só há dois países europeus com assento no Conselho de Segurança da ONU [Reino Unido e França]", vincou, referindo também a influência da cultura inglesa e da própria comunicação social britânica.
Por outro lado, notou que o Reino Unido "vai perder influência global, como é óbvio" fora da UE, que é um dos três grandes atores globais, juntamente com os Estados Unidos e a China, os quais determinam decisões em fóruns como o G20.
"Nós europeus temos interesse em que o Reino Unido esteja tão perto quanto possível e é isso que deve acontecer e eu desejo que aconteça", afirmou.
O Reino Unido saiu da UE em 31 de janeiro de 2020 na sequência de um referendo realizado em 2016, no qual 52% dos eleitores votaram a favor da saída.
Até 31 de dezembro de 2020 decorre um período de transição, durante o qual o país continua a aplicar as regras do bloco europeu e mantém acesso ao mercado único.
As negociações para um acordo pós-Brexit foram retomadas na semana passada, dias depois de Londres ter declarado que estavam "terminadas" devido a divergências em questões como as regras para a concorrência económica e acesso dos barcos de pesca europeus às águas britânicas.
Na ausência de um acordo, serão impostas tarifas aduaneiras no comércio entre o Reino Unido e o bloco europeu a partir de 1 de janeiro de 2021.