Um dos muitos títulos que se fizeram em reação à vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas, que aconteceu este sábado, dizia algo como “Trump perdeu mas o populismo nunca esteve tão vivo”. Uma leitura breve mas certeira do que se passou neste grande escrutínio popular.
Joseph Robinette Biden Jr., de 77 anos de idade, será o 46.º presidente dos Estados Unidos, mas irá governar com um Senado (ainda) dividido e uma Câmara dos Representantes onde os republicanos ganharam assentos - prova concreta de que a recusa dos americanos em dar um segundo mandato ao presidente incumbente (a primeira vez que acontece desde 1992, com George H. W. Bush) tem mais a ver com a pessoa de Donald Trump do que com a sua política.
Até à tomada de posse, a 20 de janeiro, ainda decorrerão alguns processos, como a confirmação do Colégio Eleitoral, a 14 de dezembro, mas aquilo que para já é uma certeza é que estas foram as eleições mais surpreendentes dos anos recentes: números recordes de afluências às urnas e o candidato presidencial mais votado de que há registo (74 milhões de votos, bastante acima de Barack Obama, que já tinha batido o recorde) num país com uma situação de fragmentação e polarização social e política sem precedentes.
Um caminho difícil pela frente
Joe Biden tem pela frente um caminho complicado. Alguns meios de comunicação social escreveram que o antigo senador do Delaware herdará um dos mais complexos quadros sociais para um novo presidente desde que Franklin D. Roosevelt assumiu o cargo, em 1933, durante a Grande Depressão.
Uma das mensagens mais ouvidas nos últimos dias, que também foi ecoada nos debates presidenciais, é a ideia de que será “um presidente para todos os americanos”, o afastamento do presidente eleito da política de divisão que sempre foi estimulada - conscientemente ou não - pelo presidente incumbente. A divisão, porém, é mais do que política, é social: os Estados Unidos estão num momento de muita tensão social, com temas como o racismo e a violência policial na ordem do dia. No tradicional discurso após a eleição, Biden voltou a sublinhar a ideia de unidade como o caminho a seguir.
A nation united.A nation strengthened.A nation healed.The United States of America.
— Joe Biden (@JoeBiden) November 8, 2020
Paralelamente, o novo coronavírus. Os Estados Unidos contabilizam mais de 237 mil mortes e mais de 9,8 milhões de casos confirmados de infeção por causa da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, uma doença que a administração de Donald Trump desvalorizou, no início, e cuja gestão foi marcada por conflito com as próprias autoridades de Saúde (ameaçou despedir principal conselheiro de Saúde na última semana).
Até 20 de janeiro de 2021, porém, está tudo em aberto, de certa forma. Biden pode ver dificultada a sua ação, uma vez que, até agora, Trump ainda não aceitou ou assumiu a derrota e ameaça lançar uma série de desafios legais não especificados aos resultados da votação. O republicano, recorde-se, ainda tem mais dez semanas no cargo (e a sua conta oficial de Twitter).
Kamala e Biden, um compromisso com diversidade
Kamala Harris tornou-se na primeira mulher afro-americana a ser eleita vice-presidente dos Estados Unidos, uma barreira quebrada não só em prol das mulheres, como das mulheres negras e, mais ainda, pelas comunidades minoritárias. A senadora californiana de 56 anos de idade incorpora o multiculturalismo que deveria definir a América, mas que não só está ausente dos centros do poder de Washington, em grande parte, como se tornou num motivo de luta e protesto nos últimos anos.
No seu discurso, este sábado, Kamala homenageou a mãe, que imigrou da Índia para os Estados Unidos com 19 anos. "Eu posso ser a primeira mulher neste cargo, mas não serei a última", disse, numa celebração da porta que se abriu para mais aceitação e mais normalização.
While I may be the first, I won’t be the last. pic.twitter.com/R5CousWtdx
— Kamala Harris (@KamalaHarris) November 8, 2020
Uma mensagem de esperança para o mundo
Bernie Sanders, que disputou com Joe Biden a nomeação para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, indicou que o triunfo do democrata sobre Donald Trump foi prova de que "a democracia venceu". Um sentimento veiculado de forma transversal, com vários líderes mundiais e nacionais a parabenizar "o regresso" dos Estados Unidos, conforme colocou a Anne Hidaldo, a mayor de Paris.
Welcome back America! Congratulations to @JoeBiden and @KamalaHarris for their election! While we are about to celebrate the 5th anniversary of the Paris Agreement, this victory symbolizes our need to act together more than ever, in view of climate emergency. #Election2020
— Anne Hidalgo (@Anne_Hidalgo) November 7, 2020
Nos Estados Unidos, a alegria reinou. Milhares de pessoas foram para as ruas de várias cidades norte-americanas, incluindo Los Angeles, Nova Iorque, Filadélfia, Atlanta e Washington, D.C., para festejarem a eleição de Biden. As celebrações incluíram música, danças, champanhe e multidões reunidas em locais que até há pouco tempo estavam vazios por causa da pandemia de Covid-19, tal como Union Square e Times Square, em Nova Iorque, e baixa de Los Angeles.
Hundreds of people are singing "Sweet Caroline" in Black Lives Matter Plaza right now. pic.twitter.com/TG7TxosgwY
— Evan McMurry (@evanmcmurry) November 7, 2020
O primeiro-ministro, António Costa, disse esperar que a eleição de Joe Biden para Presidente dos Estados Unidos proporcione "uma nova oportunidade" para as relações transatlânticas. "Já tive a oportunidade de fazer uma mensagem pública, de felicitar o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, e transmitir a vontade de não só incrementar as nossas relações bilaterais, como que seja uma nova oportunidade para uma nova época das relações transatlânticas", disse António Costa.