Um das figuras políticas brasileiras que se posicionou contra Bolsonaro foi o seu rival nas presidenciais de 2018 Ciro Gomes, que pediu "cadeia" para o chefe de Estado.
"Cadeia é muito pouco para canalhas que fazem 'politicagem' com vacina, a única saída para pôr um ponto final na maior crise de saúde pública e socioeconómica da história", escreveu Ciro Gomes na rede social Twitter, que numa outra publicação acrescentou: "Ódio não é bom conselheiro. (Quase) 163 mil vidas perdidas são, até aqui, o resultado de elegermos canalhas para cargos tão importantes".
Também o governador do estado do Maranhão, Flávio Dino, reforçou que as mortes no Brasil devido à pandemia já ultrapassam as 162 mil, classificando o Presidente como "o maior aliado do coronavírus" no país sul-americano.
Já o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), formação política do governador de São Paulo, João Doria, um dos maiores adversários de Bolsonaro, indicou que o Presidente "comemorou a morte de um voluntário".
"O Presidente Bolsonaro comemorou a morte de um voluntário da Coronavac. Que, segundo consta, faleceu por razões que não tinham a ver com a vacina, de acordo com o diretor do Instituto Butantan. A atitude do Presidente é mais uma prova de que coloca as suas pretensões políticas acima de todos e realmente não se importa com a vida dos brasileiros. Cada vez mais ele parece estar do lado do vírus", salientou o PSDB nas redes sociais.
Em causa está um mensagem divulgada hoje por Jair Bolsonaro, que comentou, em tom de vitória, a suspensão dos testes da Coronavac, que está a ser testada no Brasil através de uma parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e as autoridades do estado de São Paulo.
"Mais uma vitória de Jair Bolsonaro", escreveu o Presidente na sua conta no Facebook, em resposta a um seguidor que lhe perguntou se o Governo compraria a vacina desenvolvida pela Sinovac, atualmente em fase final de testes, caso a sua eficácia seja comprovada.
"Morte, invalidez, anomalia. Essa é a vacina que Doria queria obrigar o povo paulista a tomar", acrescentou o Presidente na mesma mensagem, reiterando que a imunização "nunca poderia ser obrigatória" no Brasil, como defende o governador de São Paulo.
Além de políticos, também especialistas de Saúde se juntaram às críticas ao chefe de Estado, condenando a politização feita em torno da vacina coronavac, como é o caso de Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas.
"Erra feio o Presidente Bolsonaro ao dizer que ele ganhou com a interrupção dos testes. O nosso interesse deve estar em combater a pandemia e salvar vidas. Ninguém deveria ganhar com isso, muito menos um Presidente eleito para zelar pelo bem-estar dos seus constituintes", escreveu a especialista, tecendo ainda críticas aos órgãos de Saúde brasileiros, pela falta de clareza na divulgação da causa de morte do voluntário.
Já o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, disse que politizar o debate sobre vacinas só provoca desinformação.
"Este é um receio que nós estamos vivenciando, de que a contaminação política ultrapasse a barreira da ciência, e vemos vacinas sendo colocadas como de um partido ou de outro, de um governador ou de um Presidente, questões xenófobas, vacinas de um país ou de outro quando, na verdade, a ciência não respeita fronteiras, não tem preferências políticas, nem calendário eleitoral para se prometer datas de entrega", avaliou Kfouri, citado pelo portal de notícias G1.
A suspensão dos testes da Coronavac no Brasil foi anunciada na segunda-feira pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após ser notificada da ocorrência de um "evento adverso grave", mas que ainda não confirmou a causa de morte do voluntário, apesar de a imprensa local noticiar que foi suicídio.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 5,6 milhões de casos e 162.628 óbitos), depois dos Estados Unidos.