Aniversário da independência angolana será celebrado "com repressão"

O músico e ativista luso-angolano Luaty Beirão considerou hoje que o 45.º aniversário da independência de Angola será celebrado "com repressão" e que os jovens "não têm paciência para aturar dinossauros políticos" neste país africano.

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Lusa
10/11/2020 23:41 ‧ 10/11/2020 por Lusa

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"Vai ser uma celebração da independência com repressão. Está anunciado pelo comandante da polícia, está anunciado pela proibição ilegítima dos governadores de províncias", disse o ativista durante o debate "Dipanda 45 anos... e agora?", organizado pela Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa (AILPcsh) e pelo Laboratório de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Católica de Angola (LAB-UCAN), realizado hoje de forma virtual.

Durante os últimos dias, vários governos provinciais, incluindo o da capital, Luanda, proibiram manifestações previstas para quarta-feira, dia em se assinalam os 45 anos da independência de Angola.

No passado dia 24 de outubro, uma marcha convocada um grupo de ativistas foi fortemente reprimida pela polícia e terminou com a detenção de mais de uma centena de manifestantes, incluindo jornalistas, entretanto já libertados.

Luaty Beirão admitiu que as gerações mais jovens "já não têm paciência para aturar dinossauros políticos".

"Os jovens já não têm paciência para aturar dinossauros políticos que acham que têm legitimidade porque andaram nas matas e nos deram a independência. Têm o nosso aplauso por isso, mas estão a gerir-nos mal há 45 anos", afirmou o ativista luso-angolano.

"Têm o nosso aplauso por isso, mas estão a gerir-nos mal há 45 anos, e é natural que as pessoas que nasceram há menos de 20 anos não tenham esse trauma que se tenta permanentemente evocar para manter as pessoas obedientes, quietas e que não se metam em assuntos", sublinhou Luaty Beirão.

Para o economista Sérgio Calundungo, do Observatório Político e Social de Angola, os protestos de jovens resultam da "busca de um sonho que foi proclamado, prometido em 1975, mas que até hoje não chegou".

"Acredito que parte deste sentido de reivindicação, de protesto, tem a ver com uma questão: se antes de 1975 havia a geração da utopia, agora há muitos jovens que não estão dispostos a fazer parte da geração da autópsia. A geração da utopia tinha um ideal e sabia o que era preciso para que o país sonhado ocorresse", disse o economista.

Calundungo referiu que Angola celebrou durante 45 anos "o evento histórico" que ocorreu no dia 11 de novembro de 1975, mas que não parou "para pensar" sobre os ensinamentos dessa data, em particular que "independência não é igual à liberdade".

"Estávamos determinados a manter a nossa soberania, mas estávamos muito desunidos, e isso, no meu ponto de vista, teve um fardo muito grande que se arrasta até hoje", declarou.

Luaty Beirão comparou Angola a "uma criança a quem só foi permitido sorrir dois anos".

"Ao fim do segundo ano de existência como criança feliz, foi sujeita a uma terapia de choque. Foi um despertar para a realidade muito violento. Angola foi abusada enquanto adolescente e hoje, antes da meia idade, é quase uma adulta deprimida", disse o ativista, que apelidou o Estado como "o país das falsas partidas, dos traumas e da desesperança".

No debate, moderado por Cesaltina Abreu e Catarina Gomes, do LAB-UCAN, participou também a professora Cristina Pinto.

O governo angolano assinala os 45 anos de independência a partir de terça-feira, com uma homenagem no Palácio Presidencial, e várias inaugurações, entre as quais a do Hotel Intercontinental, nacionalizado no mês passado.

Na quarta-feira, data em que se celebram os 45 anos da "Dipanda", as cerimónias começam às 07:00 com o içar da bandeira no Museu Central das Forças Armadas Angolanas, seguindo-se às 09:00, a deposição de uma coroa de flores no memorial Dr. António Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, que proclamou a independência em Luanda, às 00:00 do dia 11 de novembro de 1975.

Para as 10:00 está prevista a inauguração do Hotel Intercontinental, nacionalizado pelo Presidente, João Lourenço, no dia 28 de outubro, passando as participações a pertencer na totalidade à petrolífera estatal Sonangol.

 

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