Manifestação não é motivo para mortes, diz pai de jovem morto em Luanda

O pai do jovem morto na sequência de uma manifestação em Luanda, dia 11 de novembro, declarou que o protesto "não constitui motivo para assassínios" e prometeu exigir justiça em frente à Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola.

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Lusa
21/11/2020 13:13 ‧ 21/11/2020 por Lusa

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Angola

 

Na sexta-feira, a PGR angolana divulgou um comunicado segundo o qual a segunda autópsia ao jovem não chegou a ser realizada porque o advogado da família recusou o procedimento depois lhe ser negada a presença de um fotógrafo e colocou o cadáver à disposição dos familiares para que seja realizado o funeral.

Numa conferência de imprensa realizada hoje em Luanda, Alfredo de Matos, pai de Inocêncio de Matos, que morreu em circunstâncias ainda por esclarecer, reafirmou que o estudante, de 26 anos, foi morto pela polícia.

"Inocêncio perdeu a vida em circunstâncias particularmente brutais, ele foi assassinado, quando se encontrava prostrado com as mãos no ar", lamentou.

"É do nosso interesse realizar o funeral de Inocêncio o mais depressa possível (...), no entanto, não sem antes fazer a realização da autópsia", acrescentou o pai do jovem, acrescentando que a família tem "estado a encontrar inúmeras dificuldades" e foi pressionada para que se fizesse a perícia médico-legal, antes de o advogado ter sido avisado.

Alfredo de Matos pediu "encarecidamente" apoio às entidades eclesiásticas, autoridades tradicionais, media, sociedade civil e opinião pública no sentido de ajudarem a "proporcionar a derradeira justiça" para que não voltem a acontecer situações semelhantes.

"A manifestação não é um problema, uma manifestação é consequência do problema", frisou, considerando que os protestos são a "reclamação de quem sofre" e "não constituem motivo para assassínios".

Alfredo de Matos garantiu que logo após a conferência de imprensa iria para a PGR: "vou-me postar frente à PGR até que a PGR faça justiça pelo meu filho. Não vou para retaliações, não vou fazer desacatos, mas ali estarei até que a Procuradoria faça justiça".

Segundo a PGR, de acordo com o primeiro exame de cadáver e autópsia, a perícia concluiu que a causa de morte foi um traumatismo cranioencefálico com fratura dos ossos do crânio e lesão do encéfalo, resultante de ofensa corporal com objeto de natureza contundente.

Testemunhas oculares garantem, no entanto, que o jovem foi baleado e morreu no local, sendo este também o entendimento dos familiares de Inocêncio de Matos que culpam a polícia pela morte.

Por sua vez, o advogado da família, Zola Bambi, acusou hoje a PGR de estar a impedir o bom andamento do processo, adotando "procedimentos para dificultar" o decurso das diligências.

"Faremos com que a verdade seja levada à luz e aos tribunais", garantiu o também presidente do Observatório para a Coesão Social e Justiça.

Em declarações à Lusa, na sexta-feira, Zola Bambi adiantou que a autópsia deveria ter sido realizada nesse dia, de manhã, na morgue central do hospital Josina Machel, mas acabou por não se concretizar, pois o representante do Ministério Público não permitiu a entrada de um fotógrafo, como tinha sido requerido.

"Em nenhum momento nos disseram que o fotógrafo não podia estar presente", frisou.

A ativista Laura Macedo, também presente na conferência de imprensa, disse que quer a família, quer o observatório, os advogados e o médico "estão dispostos a aguardar "para que a contrautópsia seja feita mediante a lei e as condições que consideram ser as mais acertadas".

Laura Macedo defendeu que "a PGR não pode declinar" e a "ela serão imputadas todas as responsabilidades do que vier a acontecer ao cadáver". 

Nos últimos 30 dias, Luanda foi palco de duas manifestações duramente reprimidas pela polícia e que se saldaram em detenções e, pelo menos, uma morte confirmada.

Hoje membros da sociedade civil angolana, entre os quais Laura Macedo, convocaram um outro protesto contra a corrupção e a impunidade.

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