O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que pede a Israel o fim deste bloqueio, junta apelos de vários organismos internacionais ao longo dos anos, onde é criticada esta postura.
No entanto, a investigação, que analisa um período de 11 anos até 2018, marca a análise mais detalhada sobre a política israelita até ao momento, noticia a agência AP.
Israel impôs este bloqueio em 2007, após o grupo militar islâmico Hamas ter tomado o controlo de Gaza através de violência contra as forças da autoridade palestiniana, reconhecida internacionalmente.
As medidas israelitas, juntamente com as restrições do vizinho Egito, resultam num controlo rígido ao movimento de pessoas e mercadorias para dentro e fora daquele território.
Para Israel, as restrições são necessárias para impedir o Hamas de aumentar a sua capacidade militar.
Os críticos desta política dizem que o bloqueio causa punição coletiva, prejudicando as condições de vida de dois milhões de habitantes de Gaza, ao mesmo tempo que não consegue derrubar o Hamas ou moderar o seu comportamento.
Gaza praticamente não tem água potável, sofre frequentes cortes de energia e as pessoas não podem viajar livremente para o exterior.
"O resultado foi o quase colapso da economia regional de Gaza e seu isolamento da economia palestiniana e do resto do mundo", realça a agência da ONU em comunicado.
O relatório analisou tanto os efeitos do bloqueio, que limitou muito a capacidade de Gaza de exportar bens, bem como os efeitos das três guerras, que ocorreram em 2008-2009, 2012 e 2014.
A última guerra foi especialmente devastadora, causando a morte a mais de 2.200 palestinianos, mais da metade civis, e levando à saída de casa de 100 mil pessoas, de acordo com números da ONU.
Já 63 pessoas, incluindo seis civis, foram mortas no lado israelita, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, com o disparo indiscriminado de 'rockets', por parte do Hamas, a paralisar o sul daquele país.
Utilizando duas metodologias, o relatório explica que as perdas económicas gerais devido ao bloqueio e as guerras variam entre 6,5 e 14 mil milhões de euros.
A economia de Gaza cresceu no total apenas 4,8% durante todo este período, embora a população tenha aumentado em mais de 40%, revela ainda.
As perdas económicas ajudaram ao aumento do desemprego em Gaza, de 35% em 2006 para 52% em 2018, uma das taxas mais altas do mundo, acrescenta.
A taxa de pobreza aumentou de 39% em 2007 para 55% em 2017. Com base nas tendências económicas de Gaza antes do bloqueio, o relatório considera que a taxa de pobreza poderia ter sido de apenas 15% em 2017 caso as guerras e o bloqueio não tivessem acontecido.
"O impacto é o empobrecimento do povo de Gaza, que já está sob bloqueio", realçou o coordenador da agência de assistência ao povo palestino e autor do relatório, Mahmoud Elkhafif.
Israel há muito que acusa a ONU de ser tendenciosa contra aquela nação. O relatório, por exemplo, incluiu apenas uma breve menção de que o lançamento indiscriminado de 'rockets' em áreas civis israelitas é proibido pelo direito internacional.
"Os militantes palestinianos devem cessar essa prática imediatamente", refere o comunicado.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel acusa a UNCTAD de falhar na sua missão de ajudar as economias em desenvolvimento e de apresentar uma visão "unilateral e distorcida" que desconsidera o controlo por parte de 'organizações terroristas' sobre a Faixa de Gaza e a sua responsabilidade pelo que acontece naquele território.
Em Gaza, o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem vincou que o relatório revelou "o nível do crime" cometido por Israel.
"Este cerco representou um verdadeiro crime de guerra e empurrou todos os setores de serviços na Faixa de Gaza para o colapso", apontou.