Durante uma conferência de imprensa de balanço do último ano -- o seu primeiro no cargo, que assumiu em 01 de dezembro de 2019 -- e perspetivando os desafios futuros da União Europeia, Charles Michel foi questionado por diversas vezes sobre as negociações com Londres e alegadas divergências entre os 27, designadamente à luz de uma ameaça de veto francês a um acordo que não agrade a Paris.
"Vamos aguentar até ao último momento, até ao último segundo deste processo, para assegurar a unidade entre nós", declarou.
Apontando que há um processo negocial em curso -- as equipas negociadoras prosseguem o 'contrarrelógio' em Londres desde o início desta semana -, Charles Michel 'contornou' várias questões sobre alegadas diferenças entre os 27 ou sobre se prefere um 'no deal' (ausência de acordo) a um "mau acordo", ideia que começa a ser transmitida por alguns Estados-membros, como França e Holanda.
De acordo com o presidente do Conselho Europeu, é necessário esperar pelos "desenvolvimentos das negociações nas próximas horas e nos próximos dias", e uma posição final dos Estados-membros só faz sentido em função "do que estiver sobre a mesa", sendo por isso necessário esperar que o negociador-chefe do lado da UE, Michel Barnier, dê conta dos resultados das conversações que ainda decorrem em Londres.
"Não tenho a intenção de antecipar" a decisão final dos Estados-membros sobre um hipotético compromisso, afirmou.
Barnier permanecia hoje de manhã em Londres, desconhecendo-se se dará conta em Bruxelas dos progressos nas negociações durante a tarde de hoje ou posteriormente.
O Reino Unido deixou a União Europeia a 31 de janeiro, mas continua sujeito às regras europeias durante um período de transição que termina no final deste ano.
Após cerca de 10 meses de negociações pouco produtivas, e marcadas por acusações mútuas, UE e Reino Unido estão em 'contrarrelógio' para concluir, até final do ano, um acordo de comércio pós-'Brexit' que possa entrar em vigor em 2021, quando cessa o período de transição que mantém o acesso do Reino Unido ao mercado único europeu.
As partes continuam, no entanto, sem chegar a um entendimento sobre três grandes matérias: condições de concorrência equitativas, pescas -- designadamente o acesso de pescadores europeus a águas britânicas - e governação, nomeadamente na resolução de diferendos jurídicos.
Para que possa entrar em vigor no início de 2021, um eventual acordo ainda tem de ser ratificado pelo Parlamento Europeu, pelo que o calendário é cada vez mais 'apertado'.
Sem um acordo que regule o relacionamento, as duas partes vão comercializar unicamente sob as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), sinónimo de taxas aduaneiras ou quotas.