Na cerimónia realizada em Paris, o secretário-geral, o mexicano Angel Gurría, destacou que a organização, que dirige há quase 15 anos, tem como primeiro dos cinco objetivos principais "colocar as pessoas no centro da sua política".
Gurría, que vai encerrar o terceiro e último mandato no final da primavera, não hesitou em evocar o nascimento da OCDE como uma continuação do Plano Marshall lançado pelos Estados Unidos para oferecer ajuda maciça aos países europeus com a condição de manter um modelo de abertura económica e liberalismo e impedi-los de cair na órbita soviética.
Na opinião de Gurría, esse foi um projeto que pôs fim a "um período de não-cooperação que conduziu à Grande Depressão e à II Guerra Mundial", em contraste com as seis décadas de existência da OCDE que evidenciou a utilidade da sua perspetiva multilateral.
Como exemplo, o secretário-geral da OCDE citou os "mais de 450 instrumentos jurídicos" e as sucessivas entradas países, dos 20 iniciais para os atuais 37, com a Costa Rica prestes a aderir e Argentina, Brasil, Peru, Roménia, Croácia e Bulgária a seguirem-se na adesão.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, falou de uma "necessária mudança de paradigma", já que por si só o "crescimento económico não garante o bem-estar".
Segundo recordou, nesse "novo consenso" estabelecido em outubro com o compromisso da reunião ministerial do organismo, que este ano foi presidido por Espanha, um dos pressupostos é que "reduzir as desigualdades" também é importante para a eficiência económica e a legitimação da democracia.
Principalmente num contexto marcado pelo declínio das classes médias, o agravamento das condições das classes trabalhadoras e pela crise do novo coronavírus que atingiu de forma particular os grupos já desfavorecidos, como as mulheres e jovens.
Sánchez apresentou também hoje um plano para criar um enquadramento para uma mobilidade internacional segura face à pandemia, o que poderá contribuir para a recuperação da economia e da atividade social.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, que foi o anfitrião da cerimónia, concordou que ao longo da história da organização "foram alcançados grandes sucessos" que se "devem muito" a Gurría e a um organismo que "deve ser um instrumento do multilateralismo".
Macron referiu-se, entre outros feitos, aos relatórios PISA (Programme for International Students Assessment) que avaliam comparativamente o nível de conhecimento dos alunos dos países membros, mas também de outros parceiros, ao "fim do sigilo bancário" à escala internacional ou ao "financiamento das mudanças climáticas".
Porém, mostrou alguma relutância na procura de um compromisso sobre a tributação dos gigantes digitais, questão que a comunidade internacional confiou à OCDE e cuja negociação está atualmente congelada pelo bloqueio dos Estados Unidos.
O Presidente francês insistiu na urgência de "uma tributação mais justa" para as grandes empresas digitais, para as quais a pandemia tem sido um grande trampolim, e alertou que o seu país quer que a negociação dê resultados o mais tardar em meados de 2021.
Esse é o prazo imposto pela própria OCDE, aguardando por uma mudança no comportamento norte-americano quando o Presidente eleito Joe Biden entrar na Casa Branca, substituindo Donald Trump.
Até que isso aconteça, foi Robert O'Brien, conselheiro de Segurança Nacional do atual Presidente norte-americano, que em nome dos EUA felicitou a organização pelo seu trabalho pelo liberalismo económico e reiterou o seu compromisso com a primeira candidatura de um norte-americano à secretaria-geral, Christopher Liddell, personalidade conhecida pela proximidade a Trump.
O Presidente colombiano, Iván Duque, também interveio por videoconferência para dizer que o país -- a terceira nação latino-americana a aderir à OCDE -- destacou que a organização se tem mostrado "um instrumento muito importante para acelerar as reformas" na Colômbia.