Revolta no Iraque com perdões de Trump a responsáveis por massacre

O presidente decidiu perdoar quatro seguranças da empresa Blackwater que mataram 14 civis, incluindo uma criança, em 2007. "O nosso sangue é mais barato do que água", lamenta uma antiga colega de uma das vítimas.

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Fábio Nunes
23/12/2020 23:30 ‧ 23/12/2020 por Fábio Nunes

Mundo

Donald Trump

Os iraquianos estão revoltados com a decisão de Donald Trump de perdoar quatro seguranças da empresa de segurança privada Blackwater que foram condenados a penas de prisão pelo massacre na praça Nisour, em Bagdade, no ano de 2007.

Os quatro homens – Paul Slough, Evan Liberty, Dustin Heard e Nicholas Slatten – faziam parte de uma escolta de segurança que disparou de forma indiscriminada com metralhadoras, lança-granadas e até com um sniper sobre uma multidão de civis, que estavam desarmados. O massacre resultou na morte de 14 pessoas, incluindo uma criança de nove anos de idade. Muitas pessoas ficaram feridas.

O massacre foi considerado um dos pontos mais baixos da invasão norte-americana no Iraque. Residentes em Bagdade reagiram ao anúncio do presidente norte-americano e afirmaram ao The Guardian que a decisão de Trump foi uma “chapada cruel” e um insulto.

Adil al-Khazali, cujo pai Ali foi assassinado durante o massacre, ressalvou que não “existe justiça”. “Peço ao governo dos Estados Unidos que reconsidere, porque com esta decisão os tribunais norte-americanos perdem a sua reputação. Trump não tem o direito de perdoar os assassinos de pessoas inocentes”, frisou.

O ativista de direitos humanos iraquiano, Haidar Salman, fez duras críticas a Trump no Twitter. “A pessoa que liberta estes criminosos é um criminoso maior. O governo iraquiano devia pedir à administração Biden para revogar o perdão”, escreveu.

Durante anos os iraquianos queixaram-se do comportamento de empresas de segurança privada como a Blackwater. “Tínhamos pavor deles, especialmente da Blackwater, que eram os mais maliciosos”, referiu Ribal Mansour, que ouviu o caos na praça Nisour no dia do massacre e correu para lá. “O que vi vai atormentar-me para sempre”, acrescentou.

Uma antiga colega de Ahmad, um estudante de medicina de 20 anos e uma das vítimas do massacre cometido pelos guardas da Blackwater, não se mostrou surpreendida com a decisão de Trump. “Os americanos nunca nos trataram como iguais. O nosso sangue é mais barato do que água e os nossos pedidos de justiça e responsabilidade são meramente um disparate”, afiançou em declarações à AFP.

A reversão do perdão concedido por Trump aos quatro guardas da Blackwater deverá ser o foco de uma das primeiras conversas do governo iraquiano com Joe Biden, após a sua tomada de posse no dia 20 de janeiro. "Vai ser a primeira coisa que vamos discutir com ele", assegurou um assessor de Mustafa al-Khadimi, o primeiro-ministro iraquiano.

Leia Também: ONU critica indulto de Trump a asassinos de 14 civis no Iraque em 2017

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