Mike Pence tem hoje a tarefa, perante o Congresso, de abrir os certificados de voto eleitorais de cada estado e apresentá-los aos escrutinadores indicados pela Câmara de Representantes e pelo Senado, ratificando o resultado do Colégio Eleitoral, que deu a vitória ao candidato democrata, Joe Biden.
Mas Trump, que ainda não aceitou esses resultados das eleições presidenciais, pediu a Pence para não cumprir a tarefa cerimonial e rejeitar a sua validação, durante a sessão conjunta das duas câmaras do Congresso.
"Tudo que Mike Pence tem de fazer é mandá-los de volta para os Estados Unidos. Nós ganhámos!", escreveu hoje Trump na sua conta pessoal da rede social Twitter.
"Faça isso, Mike. Este é um momento para extrema coragem!", acrescentou o Presidente cessante, procurando que os resultados eleitorais não sejam ratificados.
Contudo, Pence não tem esse poder unilateral, nem ao abrigo da Constituição, nem segundo as regras do Congresso que determinam a contagem dos votos do Colégio Eleitoral.
Também alguns aliados próximos de Trump rejeitam a ideia de que Pence poderá agir para anular a votação.
"Lutamos em todas as frentes com métodos legalmente justos, que são baseados na Constituição dos Estados Unidos. Não queremos anarquia aqui", disse hoje o advogado Jay Sekulow, que representou Trump durante o processo de destituição, em janeiro,
O próprio Pence disse a Trump, durante o seu almoço semanal na Casa Branca, na terça-feira, que não acreditava que tivesse o poder de anular unilateralmente os votos eleitorais, de acordo com uma pessoa informada sobre a conversa entre o Presidente e o vice-Presidente.
Mas Trump negou esse relato, num comunicado divulgado na terça-feira, continuando a afirmar que Pence tem poderes para reverter os resultados da eleição.
Pence passou várias horas reunido com a sua equipa e com elementos do Congresso, para se preparar para a sessão conjunta no Congresso, que hoje se realiza, analisando os documentos da Lei de Contagem Eleitoral de 1887, que rege os procedimentos dessa cerimónia.
"Acho que ele vai abordar a matéria como um constitucionalista, basicamente, e vai interrogar-se: qual é o meu papel na Constituição como presidente do Senado?", disse David McIntosh, presidente do Clube para o Crescimento e amigo de Pence.
Ao cumprir uma das poucas responsabilidades formais da vice-presidência, Pence corre o risco de comprometer o seu próprio futuro político, se não cumprir as regras do Senado, colocando em risco uma eventual candidatura presidencial em 2024, segundo vários analistas.
Trump planeia reunir milhares de apoiantes no Ellipse, ao sul da Casa Branca, horas antes da contagem no Congresso.
Ainda assim, dezenas de republicanos na câmara de representantes e uma dúzia no Senado já disseram que vão contestar os votos eleitorais de alguns estados, o que pode atrasar o processo de ratificação dos resultados das eleições de 03 de novembro.
Contudo, dificilmente haverá uma maioria em ambas as câmaras do Congresso para rejeitar a vontade dos eleitores.