A audiência preliminar começou hoje em Palermo (Sicília), na mesma sala ´bunker` da prisão de Ucciardone onde se realizou em meados da década de 1980 o mega-processo ordenado pelos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino contra a máfia italiana e que resultou na morte de ambos em 1992 por carros-bomba.
Na audiência de hoje, o juiz Lorenzo Jannelli aceitou como partes civis sete dos migrantes a bordo do navio e associações como Legambiente, Arci, Accoglie Rete, Giuristi Democratici, a própria ONG Ciss, Open Arms, Mediterranea Saving Humans e Cittadinanza Attiva, bem como o comandante do navio espanhol que foi impedido de atracar, Marc Reig Creus.
"Faria tudo novamente e fá-lo-ei quando regressar ao governo", disse Salvini em Palermo.
Salvini é defendido pela advogada e senadora da Liga Giulia Bongiorno que, entre outras teses, alega que o bloqueio do barco se devia ao facto de se esperar que os migrantes fossem deslocados para países europeus, e que entre eles se encontravam dois traficantes.
Ela afirma ainda que a proibição de atracar não foi uma decisão individual de Salvini, mas sim de todo o executivo de Giuseppe Conte.
"A gestão deste episódio de imigração irregular constituiu a implementação da linha de governo partilhada pela Presidência do Conselho de Ministros e pelos ministros competentes", refere a defesa do então executivo de Conte, formado pela Liga (ultra direitista) e pelo Movimento 5 Estrelas (antissistema).
"Esta linha prevê a realização de um acordo para a redistribuição dos migrantes entre os Estados membros da União Europeia (UE) como fase prévia ao desembarque subsequente", acrescentou.
A defesa observa que "não cabia à Itália indicar um porto seguro" porque os migrantes tinham sido "resgatados em águas líbias e maltesas por um navio arvorando a bandeira espanhola".
E que a Itália, em qualquer caso, não se recusou a prestar assistência aos migrantes e que as crianças foram de facto desembarcadas.
A defesa de Salvini diz que o comandante do "Open Arms" tinha "numerosas alternativas", incluindo ir para Espanha, que tinha oferecido dois portos.
"O navio espanhol ´Open Arms` recusou o desembarque oferecido por Malta, Espanha - apesar de duas ofertas das autoridades ibéricas -- e o navio militar espanhol, pondo em risco a saúde dos migrantes.
Agora, dois dos resgatados estão na prisão e 44 desapareceram porque fugiram, mas o processo cabe ao ministro que defendeu as leis e fronteiras do seu país sem morte ou ferimentos", disse Salvini, durante uma pausa na audiência preliminar.
Este caso, que representou uma longa odisseia para os migrantes resgatados pelo "Open Arms", ocorreu quando Salvini, como chefe do Interior, promoveu uma forte política de portos fechados aos navios de organizações humanitárias no Mediterrâneo central.