A suspensão foi confirmada à Lusa pela prefeitura de Manaus, que prevê retomar a imunização na sexta-feira, após a definição de "um plano reorganizado de distribuição das doses nas unidades da rede de saúde estadual, com os critérios de definição de prioridades baseados na exposição ao risco, comorbidades e faixa etária".
"Em razão da quantidade de vacinas disponíveis ser suficiente apenas para 34% dos 56 mil profissionais de saúde, Governo e prefeitura deveriam direcionar as doses, estabelecendo preferências dentro do grupo prioritário", salienta o comunicado da autarquia de Manaus.
A única exceção à suspensão são os profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu, que equivale ao INEM em Portugal) de Manaus, que continuarão hoje a receber a vacina contra o novo coronavírus.
A paralisação da imunização surge horas após uma polémica a envolver duas médicas, que publicaram nas redes sociais o momento em que receberam a imunização. A família das médicas é dona de hospitais e universidades particulares em Manaus, entre outros negócios.
A polémica adensou-se depois de ter sido conhecido que as duas médicas apenas foram contratadas pela Prefeitura de Manaus na véspera e no dia do início da vacinação na cidade.
Nas redes sociais, as imagens publicadas pelas próprias profissionais de saúde geraram revolta e questionamentos em relação à suspeita de que poderiam ter ultrapassado colegas prioritários para vacinação.
À Lusa, a autarquia de Manaus negou qualquer irregularidade.
" A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), esclarece que não há nenhuma irregularidade na vacinação das médicas Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins, uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão", diz o comunicado.
Contudo, o Ministério Público (MP) informou à imprensa local que se encontra a investigar a vacinação em grupos que não são prioritários, mesmo tratando-se de profissionais de saúde.
Além de Manaus, capital estadual do Amazonas, o MP também investiga irregularidades semelhantes nas unidades federativas de Pernambuco e Sergipe.
No momento em que iniciou a imunização, o Amazonas atravessa uma grave crise de saúde, cuja falta de camas de hospital, oxigénio e outros equipamentos obrigou a transferência de dezenas de pacientes para outros estados brasileiros.
Essa escassez de oxigénio causou a morte por asfixia de pelo menos 51 pessoas nos últimos dias, principalmente nas cidades do interior, segundo cálculos do Ministério Público.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (212.831, em mais de 8,6 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.075.698 mortos resultantes de mais de 96,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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