Eleito pela primeira vez em 2017, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, que se recandidata sem oposição, irá procurar a recondução no cargo para o mandato de 2021-2024, devendo para isso recolher o apoio de dois terços dos chefes de Estado africanos.
"Dentro de dois meses completarei o meu primeiro mandato de quatro anos ao leme da Comissão da União Africana. Estou orgulhoso de ter liderado a Comissão com uma equipa que deu o seu melhor para ter sucesso na nossa missão conjunta", disse Mahamat, num relatório sobre o balanço do mandato anterior e as prioridades para o próximo divulgado durante o fim de semana.
O político chadiano reconheceu que durante o seu primeiro mandato no cargo houve desenvolvimentos e aspetos positivos, mas também menos positivos, assinalando que estes quatro anos terminam, num contexto de complexidade intensificada pela pandemia da covid-19.
"Relativamente ao contexto da minha eleição em 2017, o mundo tornou-se cada vez mais complexo e as previsões tornaram-se mais incertas", admitiu.
O ainda presidente da Comissão disse que o seu projeto para o próximo mandato continuará centrado nos objetivos de desenvolvimento da Agenda 2063 da UA e em sete áreas prioritárias, incluindo a finalização da reforma institucional da organização e o reforço da liderança dos seus órgãos, o reforço da responsabilização a nível administrativo e financeiro e a luta para silenciar as armas em África.
"O próximo mandato pode ficar comprometido se não silenciarmos significativamente as armas nos países afetados por crises e conflitos armados em África", disse Moussa Faki Mahamat.
"Erradicar o terrorismo no Sahel, na região do Lago Chade, em Moçambique, Tanzânia e Somália, construir a paz na República Centro-Africana (RCA), no Sudão do Sul, Sudão e Líbia e assegurar a contribuição da África para a solução do conflito do Sara Ocidental serão prioridades", detalhou.
A UA tem sido criticada pela sua inação ou reação tardia às crises políticas e de segurança no continente.
Neste contexto, o candidato sublinhou a necessidade de melhorar o alerta precoce, a prevenção e a mediação de conflitos no continente, reafirmando o princípio de "soluções africanas para problemas africanos", bem como a necessidade de "articular mais claramente o discurso sobre o financiamento de operações africanas de manutenção da paz".
Moussa Faki Mahamat disse ainda que se baterá por uma implementação bem-sucedida de projetos-chave de integração, tais como o Acordo de Comércio Livre Continental Africano (AfCFTA), que entrou em vigor no início deste ano.
Na lista de prioridades estão também maiores esforços para melhorar a alimentação, reduzir a pobreza e proteger o ambiente, bem como a implementação de políticas a favor dos jovens e das mulheres.
Faki Mahamat propõe-se também renovar as parcerias estratégicas do continente, nomeadamente com a China e a União Europeia, sob os princípios de que a África pertence aos africanos, os problemas africanos são resolvidos por e entre africanos e o continente fala a uma só voz.
"Tenciono revisitar, as nossas parcerias estratégicas a fim de as alinhar com estes princípios simples, mas cruciais", disse.
"África e Ásia, África e Europa, África e América, como não podemos estar orgulhosos por o nosso continente estar hoje no centro destes imensos espaços geoestratégicos? No entanto, em última análise, só desfrutaremos plenamente deste estatuto se nos afirmarmos, sem complexos nem hesitações, na nossa própria identidade, numa base de igualdade total com os outros", acrescentou.
O político chadiano deverá apresentar a sua avaliação do seu primeiro mandato e a sua proposta de reeleição aos chefes de Estado na cimeira da UA, marcada para 06 e 07 de fevereiro, previsivelmente em formato digital.
A União Africana integra 55 países, incluindo Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe, é dirigida por uma comissão e a sua presidência ocupada rotativamente pelos países pelo período de um ano.
A organização reúne-se anualmente em assembleia ordinária em Adis Abeba, na Etiópia, onde tem a sua sede.
A cimeira, que deverá centrar as discussões na crise provocada pela pandemia de covid-19 no continente, marcará a passagem da atual presidência da África do Sul para a República Democrática do Congo (RDCongo).
A nova Comissão da União Africana, a primeira a ser eleita após o processo de reforma iniciado em 2016 sob supervisão do Presidente ruandês, Paul Kagamé, terá menos comissários e será escolhida através de um novo sistema baseado no mérito.
A nova estrutura executiva da União Africana será composta por oito membros, incluindo um presidente, um vice-presidente e seis comissários, menos dois lugares do que na anterior comissão.
Entre os candidatos a comissários, está a engenheira agrónoma angolana Josefa Leonel Correia Sacko.
A diplomata e atual comissária da UA para a Agricultura e Economia Rural, a única representante lusófona na lista de 25 candidatos pré-qualificados, vai procurar a reeleição para a mesma pasta, que passará também a integrar a Economia Azul e o Ambiente.