Um médico norte-americano foi despedido e acusado do roubo de 10 doses da vacina contra a Covid-19 depois de, em dezembro, ter chamado pessoas a sua casa para tomar uma dose, por ter um frasco aberto do medicamento que expirava em seis horas. "Todo o meu mundo desabou. Tudo desabou sobre mim. Meu Deus, foi o mais fundo que estive na minha vida", disse Hasan Gokal, em entrevista ao New York Times.
Gokal, médico no Texas, tinha seis horas para encontrar dez pessoas, numa noite de dezembro em que um frasco aberto do fármaco ficou com 10 doses por ministrar. Porém, ficava inutilizável em seis horas.
Rapidamente, o profissional de saúde fez várias chamadas, alguns conhecidos, outros estranhos: um homem de 90 anos acamado, uma mulher de 80 anos com demência, uma mãe cujo filho usava um ventilador. Pediu a todos que fossem a sua casa, em Houston, o mais depressa possível.
Pouco depois da meia-noite, alguns minutos antes das doses serem consideradas inutilizáveis, Hasan Gokal deu a última à sua mulher, que tem uma doença pulmonar.
Estas decisões custaram-lhe o emprego governamental, do qual foi despedido, e uma acusação de roubo de 10 doses da vacina (no valor de 135 dólares), um delito leve que, mesmo assim, colocou o seu nome e fotografia em todos os jornais, não só nos Estados Unidos.
Conforme escreve a publicação, este caso é ainda muito suscetível a interpretações, sendo um paradigma do sentido de bioética que ainda se está a tentar delimitar, à medida que as vacinas vão chegando às pessoas, numa pandemia que ainda se está a desenrolar.
Hasan Gokal, de 48 anos, chegou aos Estados Unidos do Paquistão com 9 anos de idade, tirou o curso de Medicina, trabalhou em vários hospitais de Nova Iorque e depois mudou-se para o Texas para ajudar a abrir um serviço de urgência em Houston. O seu trabalho como voluntário inclui a reconstrução de casas e assistência médica após o furacão Harvey, em 2017. Agora, está a ser julgado por roubo. No mês passado, um juiz determinou que a acusação não tinha fundamento, mas o procurador distrital está a pressionar para levar o caso a instâncias superiores.
Este caso encontra paralelo no que aconteceu no final de janeiro em Portugal, na direção regional do INEM do Norte. O diretor regional do INEM no Norte, António Barbosa, assumiu que tinha autorizado a vacinação de 11 funcionários de uma pastelaria próxima, tendo rejeitado que se tratasse de favorecimento, mas sim para evitar o desperdício das doses de vacina. Barbosa acabou por perder o cargo.
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