O Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC-PSOE) ganhou as eleições catalãs de domingo (23,0% e 33 deputados regionais), mas o partido central na futura solução governativa é a ERC (independentista) que ficou em segundo lugar, mas com o mesmo número de representantes (21,3% e 33).
A ERC, que faz parte da atual coligação no governo regional, conseguiu ultrapassar os seus parceiros conservadores independentistas do Juntos pela Catalunha (JxC, 20,0%, 32), do antigo presidente da região Carles Puigdemont fugido na Bélgica, e partido que até agora tinha a presidência do executivo regional.
"A chave do futuro governo regional está nas mãos da ERC, que tanto pode decidir renovar o executivo atual como entrar numa lógica de aproximação da sua família política [socialista], uma evolução fora da lógica separatista atual", afirmou em declarações à agência Lusa o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera.
Este analista está convencido de que se vai assistir a "negociações longas", mas que a grande divisão do bloco separatista não fecha a possibilidade de negociações também com o PSC.
Carlos Barrera desvaloriza as declarações "a frio na noite das eleições", em que os dirigentes da ERC asseguraram pretender renovar a coligação separatista.
O candidato da ERC, Pere Aragonès, anunciou na noite de domingo que irá defender a sua investidura como presidente do governo regional (Generalitat) e que pretende um "governo amplo" com todas as forças pró-soberania.
Pere Aragonès considerou que, tendo empatado em lugares com os socialistas e obtido mais de 600.000 votos, pode negociar um governo conjunto de todos os partidos a favor da autodeterminação e da "amnistia" dos que considera ser os "presos políticos" condenados por terem participado em 2017 na tentativa de independência da Catalunha.
Por seu lado, o presidente histórico da ERC, Oriol Junqueras, que está a cumprir uma pena de prisão e inabilitado pelo seu envolvimento na tentativa independentista de 2017 afirmou hoje que um governo entre a ERC e o PSC é "impossível", porque ambos são "os partidos políticos mais antagónicos da Catalunha".
"Há uma grande rivalidade entre os dois principais partidos independentistas, mas a ERC, agora sendo o mais votado no bloco separatista, não quer continuar a ser um joguete do JxC, nem de Jacques Puigdemont", afirmou Carlos Barrera.
O movimento independentista está muito dividido e com as bases dececionadas, desde que em 2017 falharam o seu objetivo de proclamar a sua independência de Espanha.
Desde essa altura, a ERC mostra-se aberta ao diálogo com o Governo liderado por Pedro Sánchez, sendo mesmo um seu aliado fundamental para este se manter no poder em Madrid.
Por seu lado, o JxC contina a defender o confronto com o Estado central e repetiu durante a campanha eleitoral que pretendia proclamar unilateralmente a independência, se ganhasse as eleições.
O separatismo "mais moderado" parece assim ter ganho ao mais radical, o que pode abrir novas perspetivas para encontrar uma solução governativa na Catalunha.
"A ERC vai precisar de tempo para convencer as suas bases de um eventual entendimento com os socialistas, que parecem ser uma alternativa melhor para que a comunidade autonómica volte ao desenvolvimento económico do passado", segundo Carlos Barrera.
O professor de Comunicação e Política Internacional na Universidade Europeia de Madrid José Maria Peredo Pombo concorda que a "chave" do futuro executivo regional "está agora na ERC", tendo os resultados das eleições regionais sido muito influenciados pela pandemia de covid-19 que levou a um grande aumento da abstenção.
A taxa de participação nestas eleições baixou mais de 25 pontos percentuais tendo sido agora mais de 53% dos votos, influenciada pela pandemia.
José Maria Peredo Pombo também pensa que "seria mais lógico a ERC voltar-se para o PSC, visto que em Madrid já tem um entendimento com o PSOE" do primeiro-ministro Pedro Sánchez.
O candidato socialista nas eleições catalãs, Salvador Illa, foi uma aposta ganha que Pedro Sánchez fez no seu antigo ministro da Saúde, a cara da luta contra a pandemia em Espanha.
Salvador Illa, como líder do partido mais votado, anunciou na noite de domingo que vai concorrer à presidência do Governo regional, assim como o fez o cabeça de lista da ERC, Pere Aragonès.
O futuro parlamento regional tem de nomear um presidente da instituição que irá em seguida decidir quem se irá apresentar a uma investidura à presidência da Generalitat.
Salvador Illa não pretende cometer o mesmo erro feito pela líder do Cidadãos (direita-liberal, constitucionalista), Inês Arrimadas, que, na sequência das eleições de 2017, decidiu não se apresentar à investidura por não ter apoios, apesar de na altura liderar o partido mais votado, a situação que agora tem o PSC.
O grande perdedor das atuais eleições é precisamente o Cidadãos, que nas eleições de 2017 concentrou o voto útil dos constitucionalistas (pela união de Espanha) que agora fugiu para o PSC, e desceu de 25,3% (2017) para de 5,6%, e de 36 para apenas seis deputados.
A extrema-direita espanhola do Vox é um dos maiores vencedores das eleições de domingo, tendo ficado em quarto lugar com 7,7% e 11 deputados, quando anteriormente não estava representantes na assembleia.
Assim como aconteceu com o PSC, o Vox conseguiu cativar uma parte importante dos eleitores constitucionalistas, que antes tinham votado Cidadãos, e também uma parte dos do Partido Popular (PP, direita) que desceu de 4,2% e quatro deputados para 3,8 e três representantes.
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