Os autocarros estavam alinhados ao final da noite, em frente ao posto de comando da polícia em Hera, localidade numa das saídas, para leste, da capital timorense, numa paragem pedida pela polícia.
Vários postos de controlo foram instalados para garantir a aplicação, dentro de umas horas, de uma cerca sanitária em redor do município da capital, que vai entrar em confinamento obrigatório.
Agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) mandam parar os coloridos e decorados transportes públicos e, um por um, vão mandando sair o condutor, verificam se todos os passageiros têm máscaras e depois recordam que quem sair hoje de Díli não pode voltar a entrar durante pelo menos uma semana.
Durante grande parte do dia de hoje neste, como noutros pontos de saída da capital, para sul e para oeste, o cenário tem-se repetido, com um movimento de debandada de milhares de pessoas que querem sair da capital antes de o confinamento obrigatório e de a cerca sanitária entrarem em vigor.
Muitos dos habitantes de Díli são oriundos de outros municípios, vivem em condições mais ou menos precárias na capital e sem trabalho ou rendimento certo e, sem certezas de poderem movimentar-se para ganhar algum dinheiro, com o confinamento preferem voltar para junto das famílias e às suas terras de origem.
O mesmo já tinha acontecido praticamente há um ano quando o Governo decretou o primeiro estado de emergência, em março de 2020, levando muitos a sair da cidade.
Então Timor-Leste tinha apenas um caso -- o primeiro foi em 21 de março --, mas hoje o país tem pelo menos 35 ativos, com dois surtos confirmados em Díli e dois no município de Covalima (também sob cerca sanitária).
Os casos de Díli são especialmente preocupantes porque indiciam a primeira transmissão comunitária da covid-19, a situação que sempre mais preocupou as autoridades que temem o impacto de um contágio mais alargado e fora de controlo numa população com muitos problemas de saúde e onde os serviços médicos são ainda deficientes.
"Estamos aqui no posto de Hera, no posto de controlo, para explicar a implementação das regras aprovadas pelo Governo, de que ninguém pode sair de Díli depois da meia-noite", disse à Lusa, de visita ao local, o comandante da PNTL em Díli, Henrique da Costa.
"Queremos informar as pessoas e garantir que se implementam essas medidas", disse.
Durante todo o dia, disse, o movimento de saída foi praticamente constante, especialmente com o aproximar da hora de fecho.
"Estão aqui em casas de alguns familiares, mas podem não ter suficiente apoio aqui e por isso preferem voltar para as suas famílias de origem em casa. Não temos números, mas há muita, muita gente a sair", referiu.
Com lanternas ou até com as luzes dos telemóveis, os agentes da PNTL vão espreitando para os autocarros onde se amontoam passageiros, a maioria sentados, mas alguns de pé e outros agarrados à porta ou até sentados no tejadilho, entre malas e sacos.
Depois, a todos eles, fazem as mesmas recomendações.
"Usem máscaras, viajem com cuidado e já sabem que agora não podem voltar a Díli até pelo menos dia 15. Fiquem com a família e continuem a ter cuidado", explica um dos agentes.
Há vários postos como estes em diferentes pontos de saída da capital e a PNTL a reforçar na terça-feira os agentes ali colocados para impedir saídas e as patrulhas na cidade para garantir o confinamento.
A Romefa é a segunda 'biscota' da fila -- todas têm nome. Na porta do condutor e passageiro imagens pintadas da Sagrada Família, enquanto mais acima, no plástico que rodeia a janela, aparece a figura do Hulk.
Nesta, como noutras, mal se vê o vidro da frente, com pinturas, letras garrafais e desenhos a deixarem apenas uma fresta para que o motorista veja a estrada.
Barras de proteção à frente do motor, barras de plástico que aproximam a carroçaria do chão e uma pintura multicolorida tornam as 'biscotas' uma das imagens de marca de Timor-Leste, facilitando o transporte, a preços mais acessíveis, para todos os pontos do país.
Mas nem todos viajam nas 'biscotas', e entre elas, na fila, estão paradas motas, carros, jipes e algumas camionetas ou carrinhas de caixa aberta, nas traseiras das quais viajam mulheres, homens e crianças, com roupas mais quentes para aguentar o frio da noite numa viagem de várias horas.
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