Moçambique. EUA criticam militares por dificultarem luta antiterrorismo
A presença de grupos militares privados em Moçambique tem dificultado a luta antiterrorista por operarem fora das normas de parceria internacionais, considerou hoje o coordenador interino do Contraterrorismo dos Estados Unidos da América (EUA).
© Lusa
Mundo Moçambique/Ataques
John Godfrey declarou hoje, em conferência de imprensa virtual em que a Lusa participou, que os EUA estão "preocupados com a presença em Cabo Delgado de companhias militares privadas".
"Estamos conscientes disso, é uma característica do panorama em Cabo Delgado que complica mais do que ajuda a abordar o terrorismo", considerou o coordenador interino, que assumiu funções na administração de Joe Biden em fevereiro.
"É um fenómeno que já vimos em outras áreas de conflito e particularmente em Cabo Delgado avaliamos que a presença dessas entidades não ajudou comprovadamente o Governo de Moçambique a combater a ameaça terrorista do Estado Islâmico com que se depara", disse John Godfrey.
O também enviado especial interino da Coligação Global para Derrotar o Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS) criticou que, "por causa dessas entidades operarem fora das estruturas de parceria internacionais, tendem a ser menos responsáveis em relação à observação de direitos humanos ou leis de conflitos armados".
A Amnistia Internacional (AI) repetiu recentemente denúncias que surgiram desde 2018, sobre alegadas violações dos direitos humanos protagonizadas por forças governamentais.
Num novo relatório lançado em início de março, a AI concluiu que além de rebeldes armados, cuja origem continua por esclarecer, as Forças de Defesa e um grupo militar privado da África do Sul contratado pelo Governo moçambicano também são responsáveis por atacarem civis durante os confrontos com os insurgentes.
As Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM) consideram falsas as informações e o Governo moçambicano nunca assumiu a contratação de companhias privadas de segurança.
O responsável norte-americano disse hoje que os EUA "levam a sério quaisquer alegações" de violação de direitos humanos ou leis de conflito armado.
Segundo John Godfrey, as iniciativas dos EUA passam por um "processo muito rigoroso", sob a supervisão do Congresso federal, para assegurar que indivíduos e líderes de entidades com que querem firmar novas parcerias tenham "um registo criminal limpo".
"Se for determinado que unidades que treinamos tem indivíduos que não vão ao encontro das condições temos de pausar ou suspender essas linhas de esforço", declarou o coordenador do combate ao terrorismo.
A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.
A violência surgiu em 2017, algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.
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