Joe Biden tem dito várias vezes que o seu objetivo principal é garantir que todos os norte-americanos sejam vacinados, mas, na quinta-feira, delineou uma nova meta: entregar 200 milhões de doses durante os seus primeiros 100 dias no cargo.
No entanto, e como se estima que toda a população dos Estados Unidos esteja vacinada até ao final de julho, as organizações humanitárias pediram a Biden para não se envolver em "política diplomática de vacinas", mas antes facilite a partilha de doses que tem a mais com o resto do mundo.
Em carta hoje enviada ao Presidente norte-americano, citada pela agência Associated Press, um grupo de 30 organizações não-governamentais (ONG) - incluindo a ONE Campaign, o International Rescue Committee, o Catholic Relief Services e a Save the Children -- apelam à administração Biden para que se comprometa a partilhar as doses em excesso através do programa Covax, criado pela Organização Mundial de Saúde e a Aliança de Vacinas.
"O número de mortes por covid-19 pode duplicar se os países ricos monopolizarem as primeiras doses de vacinas em vez de garantirem que são distribuídas globalmente", escreveu o grupo de ONG.
"A acumulação de vacinas pode custar à economia global até 9,2 biliões de dólares (cerca de 7,8 biliões de euros)", referem as organizações, acrescentando que "os países ricos vão arcar com metade desses custos devido a interrupções na cadeia de fornecimento e a choques da procura".
Segundo as ONG, a Covax -- programa que visa uma distribuição equitativa das vacinas pelo mundo -- poderá garantir que as vacinas sejam distribuídas de forma a "maximizar a equidade".
Biden anunciou que os Estados Unidos vão contribuir financeiramente para a Covax e partilhar vacinas com mais de 90 países mais desfavorecidos, mas ainda não se comprometeu a partilhar concretamente doses de vacinas.
Até agora, a administração Biden aprovou apenas a exportação de cerca de 4 milhões de doses da vacina da AstraZeneca - que não é autorizada nos EUA, mas está em uso em todo o mundo - para o Canadá e o México.
Nos próximos meses, espera-se que o excesso de vacinas nos EUA alcance centenas de milhões de doses, permitindo o que a Casa Branca chama de "flexibilidade" na resposta a quaisquer deficiências e desenvolvimentos futuros sobre a necessidade potencial de doses de reforço e vacinação de crianças.
Os Estados Unidos estão a administrar uma média de cerca de 2,5 milhões de doses por dia e o ritmo deve aumentar significativamente no final deste mês, quando se espera um crescimento do fornecimento de vacinas.
As ONG querem que a Biden previna já quaisquer questões contratuais ou legais que os fabricantes norte-americanos tenham por partilharem vacinas com o mundo e trace um calendário de entregas à Covax.
As organizações também apelaram às empresas farmacêuticas para partilharem a experiência de fabrico e ao Presidente dos Estados Unidos para apoiar a disponibilização de matéria-prima para vacinas.
Atualmente, todas as vacinas produzidas nos Estados Unidos são reivindicadas pelo Governo federal nos termos de contratos firmados entre com os fabricantes.
A administração Biden comprou doses suficientes das vacinas Moderna, Pfizer e Johnson & Johnson para vacinar, até ao final do ano, mais 150 milhões de pessoas do que a totalidade da população norte-americana.
Os EUA também encomendaram 110 milhões de doses da vacina Novavax, suficiente para vacinar 55 milhões de pessoas, que deve entrar com pedido de autorização de emergência já no próximo mês, e 300 milhões de doses da da AstraZeneca, suficientes para 150 milhões de pessoas.
"Dada a perspetiva otimista para vacinar a maioria dos norte-americanos nos próximos meses e o grande número de doses em excesso que os EUA têm, o país está numa posição única para acelerar a resposta global à pandemia através da partilha de vacinas", concluem as ONG.
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