De acordo com uma carta recente ao Conselho de Segurança e hoje citada pela agência France-Presse (AFP), António Guterres considera que uma solução a longo prazo "conducente a uma retirada segura e completa" da missão da Força de Segurança Interina para Abyei (UNISFA) "deve basear-se nas relações de boa vizinhança entre o Sudão e o Sudão do Sul e na conclusão de um acordo pelas partes sobre o estatuto final da zona de Abyei, com o apoio da região, da União Africana e das Nações Unidas".
"Apelo a todos os parceiros para que ajudem o Sudão e o Sudão do Sul a resolverem as suas questões pendentes, em particular a chegarem a um acordo sobre o estatuto final de Abyei", acrescentou o líder da ONU, sem propor qualquer opção.
Estabelecida em 2011, a UNISFA compreende cerca de 4.000 'capacetes azuis', militares e polícias, sendo uma grande parte etíopes.
A carta de Guterres recorda as consultas com várias partes, que tiveram abordagens divergentes.
Para o Sudão, "uma retirada responsável da UNISFA poderia ser considerada imediatamente, mas deveria ser faseada ao longo de um ano para dar tempo aos governos de Sudão e Sudão do Sul para estabelecerem os mecanismos do acordo de 20 de junho sobre disposições administrativas e de segurança", assinalou o secretário-geral.
Guterres acrescentou que, dadas as atuais tensões com a Etiópia, o Sudão solicita a substituição das forças de manutenção de paz etíopes por uma força multinacional africana mais pequena que a atualmente presente no território.
Por sua vez, o Governo do Sudão do Sul "acredita que o fim da missão da ONU só deve ser considerado após um acordo sobre o estatuto final para Abyei".
"Os problemas de segurança persistem em Abyei e na vizinha região do Cordofão Ocidental", o que, para Guterres, justifica "a continuação da missão da ONU".
Guterres recordou que Juba "rejeita a criação de instituições conjuntas com o Sudão, argumentando que tentativas anteriores resultaram em duas guerras" devido a "falta de confiança entre as partes".
Para a Etiópia, uma redução das tropas na UNISFA, aliada à falta de cooperação com o Sudão, impediria a missão de "cumprir plenamente o seu mandato" e iria comprometer a segurança das forças de manutenção de paz, levando à retirada dos etíopes.
Guterres apontou também que a Etiópia argumenta que a situação sobre a UNISFA está ligada a outros desenvolvimentos regionais, como a Grande Barragem do Renascimento Etíope, no Nilo Azul, e o conflito com o Sudão sobre a região de Al-Fashaqa.
A região de Abyei é uma zona rica em petróleo e é disputada entre o Sudão e o Sudão do Sul.
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