Unicef denuncia crise humanitária e risco de cólera em Moçambique

O diretor de programas de emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) declarou hoje que a região de Cabo Delgado, em Moçambique, tem uma ampla e longa crise humanitária e de proteção.

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Lusa
13/04/2021 19:36 ‧ 13/04/2021 por Lusa

Mundo

Cabo Delgado

 

Manuel Fontaine, que falou a partir de Pemba, Moçambique, numa videoconferência da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, Suíça, mostrou ainda preocupação pelo risco de cólera, que está a aumentar em províncias vizinhas de Cabo Delgado.

"O que eu vejo aqui, após anos de experiência em lidar com situações humanitárias, é que enfrentamos uma crise humanitária ampla e provavelmente duradoura", declarou o diretor de programas de emergência da Unicef.

"Um terço da população está deslocada agora. É realmente marcante ver em algumas localidades que a população duplicou ou, em alguns casos, triplicou. Pode imaginar-se o quão pesado é para as populações em cidades e vilas que já são pobres e não têm muito a oferecer", disse Manuel Fontaine.

Segundo o responsável da agência da ONU, a desnutrição aguda global, que vai aumentar, atinge atualmente 13% dos deslocados internos em comunidades de acolhimento.

O diretor de programas de emergências da Unicef mostrou ainda preocupação pela cólera em Cabo Delgado, que "não está sob controlo" e que está a aumentar em províncias vizinhas.

"Portanto, uma situação humanitária muito séria e provavelmente duradoura, na qual o acesso é complicado", reforçou.

O responsável acrescentou que se enfrenta "uma crise de proteção muito clara", indicando que há "histórias constantes em que as pessoas têm de correr no meio da noite, com a família, ou muitas vezes, depois das famílias serem separadas".

Mencionando o testemunho de uma mulher grávida que fugiu com outro filho depois de verem o marido ser morto, Fontaine declarou que "são histórias constantes" de raptos, violência de género e de "tormentos", que denunciam uma crise de proteção "muito séria".

As crianças que são obrigadas a fugir sem estarem com os pais "chegam completamente silenciosas, incapazes de se articular e traumatizadas de várias maneiras", disse o responsável da Unicef.

A Unicef está a tentar ajudar pelo menos 220 crianças separadas dos pais, apesar de haver mais crianças nessa situação, com proteção e abrigo rápido, com apoio físico e psicológico e com tentativas de localizar as famílias.

Enobrecendo a "incrível solidariedade e resiliência" de famílias que abrigam e cuidam de dezenas de deslocados nas suas casas, o responsável descreveu a necessidade de assistência alimentar, água e "suprimentos básicos" para as pessoas que fugiram sem nada, mas também os pedidos de ajuda para construir uma nova vida, com empregos e com educação para as crianças.

A Unicef denuncia a insuficiência de dinheiro para operações humanitárias e pede acesso às áreas famílias e crianças afetadas, nomeadamente com ajuda das autoridades moçambicanas e de "todas as partes envolvidas".

O Programa Alimentar Mundial (PAM) fez hoje um apelo aos doadores no valor de 82 milhões de dólares (68 milhões de euros) para dar assistência a centenas de milhares de pessoas que enfrentam fome severa no norte de Moçambique.

A agência das Nações Unidas visa assistir 750.000 pessoas deslocadas e membros vulneráveis das comunidades anfitriãs nas províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia.

A população alvo representa 78% das 950.000 pessoas que segundo o PAM enfrentam fome severa.

A violência armada em Cabo Delgado começou há mais de três anos, mas ganhou uma nova escalada em 24 de março, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, a cerca de seis quilómetros de grandes projetos de gás natural.

Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas, e com cerca de 2.500 óbitos desde o início do conflito, segundo contas feitas pela Lusa.

Leia Também: Mulher com nacionalidade portuguesa raptada em Maputo

 

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