Na sessão de encerramento da conferência "UE-Ásia: desafios e futuro", uma iniciativa do Fórum Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian, Augusto Santos Silva defendeu que "é preciso ter em conta as diferentes dimensões de uma relação" que extravasam a perspetiva mercantil.
Por exemplo, referiu, a Índia não pode ser procurada como parceira apenas para medicamentos e vacinas, nem o interesse na China se deve ficar pela exportação automóvel.
Porém, "a UE ainda padece de uma certa autolimitação" no que respeita a desenvolver a "dimensão extraeconómica", reconheceu.
A UE tem-se focado sobretudo na dimensão comercial ou então na cooperação para o desenvolvimento. "Essas duas faces são muito importantes, mas Janus [figura mitológica com duas frentes] não chega, precisamos de um poliedro", defendeu o ministro.
Augusto Santos Silva considera que a UE deve ter "firmeza" na relação geopolítica com a Ásia e excluir a ideia de uma "deslocação do centro de interesse" para este continente.
O ministro deixou um "não rotundo, claro", à "tentação de replicar o raciocínio do pivô europeu para a Ásia", contrapondo que "não se deve substituir, mas multiplicar" interlocutores.
"Não se trata agora de nos deixarmos interessar tanto pela América Latina ou por África ou pela vizinhança próxima para nos interessarmos mais pela Ásia", frisou.
O ministro recusa ainda a ideia de "um século asiático ou do Pacífico".
Realçando que "uma relação de tensão não tem de ser necessariamente de confrontação", o chefe da diplomacia portuguesa considera que a UE "tem progredido" em termos de política externa comum e "política externa própria, que não seja apenas decalcada de outros Estados ou entidades".
Agora, a UE tem de adotar "um olhar novo, mais próximo" sobre a Ásia, sempre acompanhando o aliado Estados Unidos, mas que seja "um olhar abrangente e equilibrado".
É neste contexto, explicou, que Portugal, na presidência do Conselho da UE até final de junho, colocou nas prioridades uma cimeira com a Índia, para que as negociações económicas entre os dois blocos, na prática suspensas há oito anos, sejam retomadas.
"É um evento fundamental para o equilíbrio geopolítico na nossa relação com a Ásia", vincou.
Para além da Índia, a UE deve "dar mais atenção à ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), acrescentou.
Antecipando a cimeira Portugal-Índia e a reunião de líderes UE-Índia, agendadas para 8 de maio, no Porto, no quadro da presidência portuguesa do Conselho da UE, a conferência que hoje juntou, 'online', vários especialistas, pretendeu "contribuir para o processo de análise e formulação da política externa da União Europeia nas suas relações com a Ásia em geral -- e com a Índia em particular".
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