Estas advertências foram transmitidas por António Guterres num discurso por videoconferência que fez para a sessão de abertura da reunião plenária da XXVII Cimeira Ibero-Americana, em Andorra, dedicada aos temas do desenvolvimento sustentável e do combate à pandemia da covid-19.
No seu discurso, parte em espanhol e parte em português, o antigo primeiro-ministro de Portugal considerou que esta cimeira "deve constituir um momento de esperança perante os enormes desafios que se colocam ao mundo" e uma reafirmação do multilateralismo e da concertação política presentes desde a fundação há 30 anos desta organização.
"A pandemia da covid-19 é a crise mais grave que enfrenta o mundo desde a II Guerra Mundial. Os seus impactos têm sido devastadores no mundo e, em particular, nos países da comunidade ibero-americana. A América Latina concentra 25% faz mortes globais por covid-19 e em 2020 sofreu uma contração económica de 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB)", apontou.
Para António Guterres, os países da América Latina "correm o risco de retroceder nos avanços alcançados em décadas de recentes", com os impactos da crise a serem especialmente penalizadores para as mulheres, crianças e outros segmentos mais vulneráveis da população.
"O lançamento de vacinas gerou esperança, deram-se passos importantes na criação do mecanismo Covax e uma lista crescente de países está a receber as vacinas através deste mecanismo. Mas preocupa-me profundamente que muitos países com baixo poder económico não tenham ainda recebido uma só dose, enquanto os mais ricos estão a caminho de vacinar toda a sua população", declarou o antigo líder do executivo português.
O secretário-geral das Nações Unidas avisou então que, "se esta perigosa tendência de nacionalismo de vacinas e de acordos paralelos continuar, a vacinação nos países em desenvolvimento poderá levar anos".
"Vai atrasar a recuperação mundial. A campanha mundial de vacinação [contra a covid-19] é a maior prova moral do nosso tempo", sustentou António Guterres.
O antigo primeiro-ministro de Portugal lançou depois um apelo ao aumento do financiamento do mecanismo Covax e defendeu que "o mundo deve unir-se para produzir e distribuir suficientes vacinas para todos, o que significa pelo menos duplicar a capacidade de fabricação em todo o mundo".
"A recuperação abre a possibilidade mais ampla de se mudar de rumo e de se construir um futuro melhor. Por isso, saúdo que esta cimeira esteja centrada na recuperação pós-covid-19 e na inovação para o desenvolvimento sustentável", disse.
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