Presidente turco atribui a Nicósia fracasso das conversações sobre Chipre

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, atribuiu hoje aos responsáveis cipriotas gregos a responsabilidade pelo falhanço da última ronda de conversações sobre o futuro da ilha dividida, acusando-os de "mentirosos".

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© Alexis Mitas/Getty Images

Lusa
30/04/2021 14:30 ‧ 30/04/2021 por Lusa

Mundo

Erdogan

 

"Não confio em Chipre do sul. Não creio que possamos obter um resultado [na próxima ronda das negociações] porque não são honestos. (...) São mentirosos", declarou aos 'media' locais o chefe de Estado turco numa referência à República de Chipre, cerca de 62% do território da ilha, de maioria cipriota grega, membro da União Europeia e internacionalmente reconhecida.

A última ronda sobre Chipre, convocada pelas Nações Unidas e que decorreu em Genebra, fracassou na quinta-feira devido às posições "muito afastadas" dos cipriotas gregos e dos cipriotas turcos para promoverem negociações formais, indicou a ONU.

Ersin Tatar, o líder dos cipriotas turcos e um protegido de Ancara, tinha considerado na quinta-feira ser inútil negociar sem o reconhecimento de um "estatuto igual" do Norte da ilha.

Apesar do ceticismo do chefe de Estado turco sobre um eventual desfecho positivo das negociações, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, assegurou na quinta-feira o apoio de Ancara aos "esforços da ONU" em "encontrar uma base comum" para o recomeço do diálogo direto sobre a reunificação.

Tatar, presidente da autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN), e apoiado nas suas posições pela Turquia, pretende o reconhecimento de dois Estados independentes e iguais nesta ilha do Mediterrâneo ocidental dividida entre as comunidades grega e turca.

A RTCN é apenas reconhecida pela Turquia, que mantém cerca de 30.000 soldados no terreno, outro motivo de discórdia entre as duas lideranças locais.

A ideia do reconhecimento de dois Estados é rejeitada pelos cipriotas gregos e por setores da oposição entre os cipriotas turcos, que desejam a reunificação da ilha na forma de um Estado federal bicomunal e bizonal.

Na semana que antecedeu este encontro, o Presidente cipriota, Nikos Anastasiades, voltou a defender em Atenas uma federação bicomunal e bizonal onde "ambas as comunidades se sintam em segurança e onde sejam garantidos os direitos humanos de todo o povo cipriota".

O Presidente cipriota acrescentou na ocasião que a futura república cipriota deverá tornar-se um Estado funcional, sem potências garantes, ou qualquer presença de forças militares estrangeiras.

O Reino Unido, antiga potência colonial, manteve duas bases militares em território da República de Chipre, a parte grega da ilha internacionalmente reconhecida.

Anastasiades também tem vindo a insistir que a solução para Chipre deve ser baseada nas resoluções e decisões do Conselho de Segurança ONU, em princípios e valores da UE que garantam uma federação sustentável, e nos parâmetros que reafirmados na reunião conjunta de novembro de 2019 em Berlim.

O Presidente da República cipriota também tem defendido a "absoluta necessidade" da presença da UE nestes encontros promovidos pela ONU.

A reunião de Genebra decorreu três anos e meio após o falhanço da anterior iniciativa das Nações Unidas, na estância suíça de Crans-Montana, em julho de 2017, para a conclusão de um acordo com as duas comunidades.

A posição da Turquia alterou-se desde esse encontro inconclusivo, e desde então passou a denunciar a solução federal, bizonal e bicomunal.

Desde então, Ancara acusa os cipriotas gregos de não pretenderem aceitar a igualdade política com os cipriotas turcos e avançou com alternativa uma solução baseada em dois Estados cipriotas independentes.

As tensões entre as duas comunidades após a independência do Reino Unido em 1960 impuseram a presença permanente da ONU na ilha a partir de 1964.

Após o fracassado golpe de Estado de ultranacionalistas cipriotas gregos apoiados pela junta militar de Atenas contra o então Presidente, o arcebispo Macários III, e que pretendia da união da ilha à Grécia, a Turquia invadiu a ilha e ocupou cerca de 38% do território.

Desde então, falharam todos os esforços para uma solução que contemple um Estado federal bizonal e bicomunal.

Em 2004, as negociações patrocinadas pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, culminaram num plano concreto, que nos referendos paralelos realizados nas duas partes da ilha foi aprovado pelos cipriotas turcos, mas amplamente rejeitado na República de Chipre.

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