As forças armadas israelitas destruíram este sábado um edifício que albergava os escritórios da agência de notícias Associated Press e outras organizações jornalísticas em Gaza, num ataque à capacidade de os meios de comunicação reportarem o que se passa no território.
O ataque, cujas razões continuam por explicar, aconteceu uma hora depois de os militares terem avisado o proprietário que iam atacar o edifício, ordenando a sua evacuação.
O momento em que os jornalistas abandonam o edifício, tentando levar o máximo de material possível, apressadamente, ficou registado em vídeo, que pode assistir na galeria acima.
O bombardeamento destruiu completamente o edifício de 12 andares que, além da AP, acolhia ainda delegações da televisão árabe Al-Jazeera e outros meios de comunicação social, deixando uma gigantesca nuvem de pó no ar.
Contactado pela AFP, o exército israelita não teve uma reação imediata às notícias.
"As bombas podem cair sobre o nosso escritório. Subimos as escadas do 11.º andar e estamos agora a olhar para o edifício de longe, rezando para que o exército acabe por recuar", colocou Fares Akram, correspondente da AP em Gaza, na sua página no Twitter, pouco antes do ataque.
Numa declaração, o presidente da AP, Gary Pruitt, mostrando-se "chocado", afirmou que foi evitada "uma terrível perda de vidas" depois de se conseguir retirar todos os trabalhadores a tempo.
"Estamos chocados e horrorizados com o facto de o exército israelita ter como alvo e destruir o edifício que alberga o escritório da AP e outros meios de comunicação em Gaza. Há muito que conhecem a localização do nosso escritório e sabiam que os jornalistas estavam lá. Fomos avisados de que o edifício seria atingido", afirmou.
Entretanto, este domingo a agência noticiosa France-Presse (AFP) anunciou ter disponibilizado as suas instalações em Gaza para acolher a congénere Associated Press (AP) e os serviços em inglês da Al-Jazeera, após a destruição do edifício.
Video of inside the press offices of the Associated Press and AlJazeera before the Gaza building was levelled to the ground. Journalists trying to grab precious and valuable equipment in short period. pic.twitter.com/Bi14stu49M
— Bessma Momani (@b_momani) May 15, 2021
O exército israelita voltou a fazer dezenas de ataques na Faixa de Gaza na noite de domingo, segundo testemunhas no enclave palestiniano, enquanto grupos armados disparavam foguetes contra Israel
Durante o dia, ataques aéreos israelitas à cidade de Gaza destruíram três edifícios e mataram pelo menos 42 pessoas, segundo médicos palestinianos, naquele que foi o ataque mais mortífero da mais recente escalada de violência no Médio Oriente.
Apesar do balanço de vítimas e dos esforços internacionais de mediação para um cessar-fogo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, assegurou que a quarta guerra com o Hamas, que governa em Gaza, irá continuar.
O Hamas também prosseguiu, lançando foguetes a partir de áreas civis em Gaza em direção a áreas civis em Israel.
Um deles atingiu uma sinagoga na cidade meridional de Ashkelon horas antes dos serviços noturnos para o feriado judeu de Shavuot, disseram os serviços de emergência israelitas.
Não foram relatados quaisquer feridos.
As hostilidades entre as duas partes escalaram repetidamente durante a última semana, marcando os piores combates no território, que alberga dois milhões de palestinianos, desde a guerra de 2014 entre Israel e o Hamas.
A mais recente onda de violência começou em Jerusalém Oriental no mês passado, quando palestinianos entraram em confrontos com a polícia em resposta às operações policiais israelitas durante o Ramadão e à ameaça de despejo de dezenas de famílias palestinianas por colonos judeus.
Um dos focos dos confrontos foi a Mesquita Al-Aqsa, um ponto de tensão frequente localizado no topo de uma colina, venerada tanto por muçulmanos como por judeus.
O Hamas começou a disparar foguetes contra Jerusalém na segunda-feira, desencadeando o assalto israelita a Gaza.
Pelo menos 188 palestinianos mortos (incluindo 55 crianças)
Pelo menos 188 palestinianos foram mortos nas centenas de ataques aéreos em Gaza, incluindo 55 crianças e 33 mulheres, e 1.230 pessoas ficaram feridas.
Oito pessoas em Israel foram mortas em alguns dos 3.100 ataques com foguetes lançados a partir de Gaza, incluindo um rapaz de 5 anos e um soldado.
O Hamas e a 'Jihad Islâmica' reconheceram que 20 combatentes foram mortos. Israel diz que o número real é muito superior e divulgou os nomes e fotos de 24 alegados operacionais que diz terem sido "eliminados".
O ataque deslocou cerca de 34.000 palestinianos das suas casas, segundo disse hoje o enviado ao Médio Oriente das Nações Unidas, Tor Wennesland, numa reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Leia Também: Aviões israelitas lançam novos ataques em Gaza