"A iniciativa de retomar as cimeiras com a Rússia sem ver qualquer progresso do lado russo será um desvio perigoso da política de sanções da União Europeia (UE)" em relação a Moscovo, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, durante uma reunião com o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, e com os seus homólogos da Geórgia e da Moldávia.
Dmytro Kuleba classificou como "errada" a possibilidade de Bruxelas e Moscovo retomarem os encontros de alto nível, porque, segundo frisou o representante, "a decisão de congelar as cimeiras em 2014, infelizmente não demonstrou qualquer vontade (por parte da Rússia) de mudar a sua política em relação à Ucrânia e à UE".
Para o chefe da diplomacia ucraniana, esta possibilidade pode mesmo "desencorajar a Rússia" de aplicar os acordos de paz de Minsk, firmados em 2015 com o intuito de acabar com o conflito no leste da Ucrânia entre Kiev e forças separatistas pró-russas.
A guerra no leste ucraniano entre forças da Ucrânia e forças separatistas pró-russas já fez mais de 14 mil mortos desde o seu início em 2014, conflito desencadeado após forças políticas pró-ocidentais terem assumido o poder em Kiev e depois de Moscovo ter anexado a península ucraniana da Crimeia.
Em 2015 foram assinados os acordos de paz de Minsk, mas este texto político de iniciativa internacional transformou-se em letra morta e as disposições foram regularmente violadas, nomeadamente as tentativas de tréguas.
Durante a cimeira europeia que hoje começa em Bruxelas, os chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados-membros da UE vão discutir uma proposta de Borrell e da Comissão Europeia que aponta para uma tentativa de restabelecimento das relações com a Rússia, mantendo ao mesmo tempo uma pressão sobre Moscovo, nomeadamente para tentar dissuadir os avanços russos em países como a Ucrânia, Geórgia e Moldávia.
É igualmente expectável, segundo avançaram as agências internacionais, que França e Alemanha possam avançar com uma proposta no sentido de retomar o relacionamento bilateral da UE com Moscovo, com o intuito de encontrar pontos de convergência entre as duas partes.
Proposta essa que não prevê, no entanto, um abandono da política de sanções que o bloco comunitário tem vindo a aplicar em relação à Rússia nos últimos anos e a renovar a cada seis meses.
Nos últimos anos, a UE adotou sanções visando a Rússia, nomeadamente o congelamento de bens e a proibição de viagens no espaço comunitário para certos cidadãos russos, na sequência da crise no leste da Ucrânia (com início em 2014).
Nos últimos meses, o bloco comunitário aprovou mais medidas restritivas contra Moscovo por motivos relacionados com o caso do opositor russo Alexei Navalny, atualmente detido em território russo.
As relações entre a UE e a Rússia têm vindo a deteriorar-se nos últimos meses e as sanções não provocaram uma mudança na atitude do Kremlin (Presidência russa) ou uma reaproximação com Bruxelas.
De acordo com a agência espanhola EFE, no encontro com os chefes da diplomacia da Ucrânia (Dmytro Kuleba), da Geórgia (David Zalkaliani) e da Moldávia (Aureliu Cocoi), Josep Borrell transmitiu-lhes a vontade de Bruxelas de "atribuir a maior importância" à manutenção das relações com os parceiros de leste.
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