Tigray. MSF anuncia suspensão e pede investigação à morte de funcionários
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) pediu hoje uma "investigação urgente" às mortes de três funcionários no Tigray, anunciando a suspensão parcial das atividades naquela região do norte da Etiópia, palco de um conflito armado desde novembro.
© Reuters
Mundo Etiópia
"Quase duas semanas após os assassínios dos nossos colegas, ninguém assumiu responsabilidades e as circunstâncias em torno das suas mortes permanecem pouco claras", disse, em comunicado, a diretora de operações dos MSF, Teresa Sancristoval.
"É por isso que pedimos uma investigação imediata para estabelecer os factos do incidente que resultou nas suas mortes e para nos fornecer um relato detalhado do que aconteceu e de quem foi responsável", acrescentou.
Teresa Sancristoval anunciou, no mesmo comunicado, a "decisão extremamente dolorosa, mas necessária, de suspender as atividades" da organização internacional médico humanitária em Abi Adi, Adigrat e Axum, na zona central e oriental do Tigray.
As equipas em outras áreas daquele estado do norte da Etiópia vão continuar, mas "de forma cautelosa".
A espanhola María Hernandéz(35 anos), coordenadora de emergência da organização, e os etíopes Yohannes Halefom Reda (31 anos), coordenador adjunto, e Tedros Gebremariam Gebremichael (31 anos), condutor, foram assassinados em 24 de junho quando viajavam de carro numa missão humanitária na cidade de Abi Adi - no centro da região de Tigray.
De acordo com a organização, os colaboradores usavam roupas e viajavam num veículo claramente identificados como pertencendo aos MSF.
Os funcionários estavam a trabalhar na região desde fevereiro "em alinhamento com o direito humanitário internacional e em diálogo e acordo com todas as partes" envolvidas no conflito, segundo os MSF.
"O assassínio dos nossos colegas é um trágico exemplo do completo desrespeito pela vida humana que as nossas equipas têm testemunhado neste conflito", disse Sancristoval.
Para a responsável da MSF, "os níveis de violência contra civis e as atrocidades cometidas no Tigray são absolutamente chocantes".
O conflito no Tigray opõe as forças federais da Etiópia à Frente Popular de Libertação de Tigray (FPLT), partido que governou a região até novembro e é agora considerada uma organização terrorista pelo Governo do primeiro-ministro e Nobel da Paz, Abiy Ahmed.
De acordo com os MSF, desde o início do conflito o pessoal médico e os trabalhadores humanitários "têm sido diretamente visados", e as instalações de saúde e ambulâncias pilhadas, destruídas ou usadas para fins militares.
A MSF assinala, por outro lado, que o trabalho das organizações de ajuda humanitária "tem sido repetidamente minado por declarações públicas que apontam suspeitas injustificadas sobre as suas atividades, pondo assim em risco a segurança das suas equipas no terreno".
"As partes em conflito devem assumir a responsabilidade de garantir que um incidente como o assassínio dos nossos colegas nunca mais volta a acontecer", afirmou a diretora da MSF.
"As organizações humanitárias devem ser autorizadas a fornecer assistência, de forma independente e imparcial, de acordo com as necessidades das pessoas", acrescentou.
A organização estima que a suspensão das suas atividades em Abi Adi, Adigrat e Axum terá "importantes repercussões" na assistência médica e humanitária às populações do centro do Tigray.
Durante os últimos seis meses, as equipas da MSF nestas três áreas forneceram tratamento médico de emergência a 9.440 pessoas, realizaram 763 cirurgias e admitiram mais de 3.000 pessoas para cuidados hospitalares, entre outras atividades, segundo dados da organização.
A morte dos funcionários dos MSF foi considerada pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, como uma violação inaceitável do Direito Internacional.
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