"Os militares ruandeses estão no país de forma ilegal na medida em que a Assembleia da República não teve conhecimento e os próprios países que fazem parte da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral [SADC] foram apanhados de surpresa", declarou à comunicação social Ossufo Momade, no final de uma visita à província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique.
Em causa está a chegada, na sexta-feira, de um contingente de mil homens, militares e polícias do Ruanda, destacado para Moçambique para apoiar as forças moçambicanas no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
Para o líder do principal partido de oposição em Moçambique, o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, violou a Constituição por não ter colocado o assunto em debate no parlamento.
"O Presidente deve respeitar a Constituição e levar este assunto à Assembleia da República", declarou Ossufo Momade, frisando que a SADC "também foi apanhada de surpresa".
"O que nós pensávamos que iria acontecer era que a SADC viria com a sua força a partir do dia 15, mas ficarmos surpreendidos quando percebemos que primeiro chegou a força ruandesa, o que preocupa aos moçambicanos", acrescentou o presidente da Renamo.
No domingo, o ministro da Defesa moçambicano, Jaime Neto, disse que o destacamento de tropas para Cabo Delgado está articulado dentro da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), depois de a África do Sul lamentar a chegada em primeiro lugar de forças ruandesas.
Na mesma cimeira em que foi aprovada a intervenção de forças da SADC em Cabo Delgado, ficou definido que Moçambique "também era livre de contactar algum país irmão africano", acrescentou Jaime Neto, avançando ainda que o Ruanda teve um "contacto formal da SADC para poder intervir militarmente em Moçambique".
A ministra da Defesa da África do Sul disse no sábado que "é de lamentar" que a chegada de tropas do Ruanda "aconteça antes de a SADC ter destacado a sua força", que se espera que chegue nesta semana.
Nosiviwe Mapisa-Nqakula falava em entrevista à televisão pública sul-africana SABC, referindo que "independentemente do acordo bilateral, seria expectável que a intervenção do Ruanda para ajudar Moçambique acontecesse no âmbito do mandato regional decidido pelos chefes de Estado da SADC".
Grupos armados aterrorizam a província desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo Estado Islâmico.
Há mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 732.000 deslocados de acordo com as Nações Unidas.
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