A tradicional ida aos bares de Paris depois do trabalho, o 'apéro', a partir de agora só é possível mediante a apresentação de um passe sanitário, em papel ou com um código QR, que assegure que o cliente está vacinado contra a covid-19, fez um teste há menos de 72 horas com resultado negativo ou tem prova de restabelecimento da doença.
Na zona parisiense de Chatelet, de grande concentração de bares e restaurantes, Melanie teve na noite de segunda-feira dificuldade em conseguir fazer um teste PCR, em pleno agosto, para poder aceder à esplanada com uma amiga.
"Eu cheguei aqui ao café, expliquei logo que não tinha passe sanitário e o empregado disse-me que não havia problema. Sentámo-nos e estamos aqui a tomar uma bebida", explicou em declarações à Lusa.
Desde o final de julho que o passe sanitário já era obrigatório em espaços culturais, como cinemas ou museus, mas também o é agora em comboios de longo curso, feiras profissionais e até hospitais, caso não coloque em risco o atendimento do paciente.
Melanie é contra o passe sanitário e, por enquanto, não conta vacinar-se.
"Não aceito que matem a democracia e que nos privem de todas as liberdades. Não sou contra a vacinação em si, mas este tipo de vacinação acho que não é muito útil, se podemos continuar a apanhar e a transmitir o vírus. Acho que o Estado está a chantagear-nos", declarou.
Desde que foi anunciado que o passe sanitário seria obrigatório em agosto para frequentar bares e restaurantes, milhões de franceses decidiram vacinar-se, mas foi também aí que começaram os movimentos contra esta imposição que no último sábado já trouxeram quase 300 mil pessoas às ruas em França.
Emilie, Patricia e Marie, que estavam na noite de segunda-feira sentadas numa esplanada junto à Fonte Stravinsky, ao pé do Centro Pompidou, não compreendem o que leva tanta gente a manifestar-se aos sábados, nem o que leva a uma tal resistência em relação à vacina.
"Sei que não é o passe sanitário que vai tocar as pessoas mais reticentes, porque em França a única coisa que faz as pessoas mudarem de ideias é quando lhes tocamos na carteira. Ninguém tem de pagar pelas escolhas dos outros", disse Patricia.
Mais à frente, dois casais vindos de Lyon jantavam aproveitando o serão de férias, e comentavam que também não compreendem os protestos.
"Essas manifestações enervam-me. Eu sou médico e não compreendo estes comportamentos. Acho que nem sequer tem nada a ver com as vacinas, foi uma questão que se politizou", disse Thibault, que está atualmente reformado.
A sua mulher, Joseane, explicou que se vacinou assim que conseguiu, já que o seu ex-marido morreu de covid-19 cinco dias após o diagnóstico. O facto de lhe terem pedido o passe sanitário quando chegou a este restaurante parisiense, tranquilizou-a.
"É um alívio saber que toda a gente à nossa volta está testada ou vacinada", confidenciou a francesa vinda de Lyon.
Já Lucille, que estava com o namorado noutra esplanada, em noite de folga do seu emprego na restauração, terá também de passar a exigir o passe sanitário aos seus clientes.
"Há tanto tempo que esperávamos o regresso das pessoas e agora vamos ter de as controlar e até mandá-las embora caso não tenham o passe. Vamos ter de fazer de polícia, mas não temos escolha", declarou.
Ter clientes na restauração sem passe sanitário pode custar até 9 mil euros de multa aos proprietários, fazendo também com que os empregados tenham de estar vacinados, embora não haja obrigação.
"Ou me vacino, ou não posso continuar a trabalhar. Vou parar ao desemprego", contou Lucille.
O único setor onde é obrigatória a vacinação para trabalhar é o setor da saúde e esta medida vai ser instaurada a partir de 15 de setembro, dando oportunidade aos mais reticentes para se vacinarem.
Quanto à obrigação do passe sanitário nos bares e restaurantes, as autoridades francesas admitiram ainda uma semana de tolerância até começarem os controlos policiais.
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