Em 20 anos, centenas de salões de beleza surgiram em Cabul, oferecendo sessões de maquilhagem e manicura a mulheres que cresceram com uma burca, a veste que lhes cobre todo o corpo e o rosto, com uma rede em tecido ao nível dos olhos.
Mas quando os talibãs estavam às portas da capital do Afeganistão, já alguns lojistas estavam a usar tinta branca nas suas montras para esconder anúncios com mulheres.
Outras montras apareceram vandalizadas com tinta preta a tapar a cara de modelos num salão de beleza e de mulheres vestidas de noiva numa loja de artigos para casamentos.
Durante os cinco anos em que governaram o país, de 1996 a 2001, os talibãs impuseram a sua versão ultrarrigorosa da lei islâmica.
As mulheres eram proibidas de sair à rua sem um acompanhante masculino e de trabalhar, e as raparigas eram proibidas de ir à escola.
Mulheres acusadas de crimes como o adultério foram chicoteadas e apedrejadas até à morte durante o primeiro "reinado" dos talibãs.
Num esforço para apresentar uma nova imagem e convencer as pessoas de que tinham mudado, os talibãs comprometeram-se a "deixar as mulheres trabalhar, de acordo com os princípios do Islão", como disse o seu porta-voz principal, Zabihullah Mujahid, na terça-feira, mas sem elaborar as condições.
Um outro porta-voz, Suhail Shaheen, disse que a burca deixará de ser obrigatória desta vez, que as mulheres serão autorizadas a estudar nas universidades e que as escolas para raparigas permanecerão abertas.
Mas muitos afegãos e representantes da comunidade internacional não esconderam o seu ceticismo em relação a estas promessas.
Durante o avanço dos talibãs, houve relatos nos meios de comunicação social de mulheres solteiras ou viúvas que foram forçadas a casar com combatentes, mas essas notícias foram negadas pelos rebeldes.
Em todo o mundo, têm sido realizadas manifestações de apoio aos civis afegãos, especialmente mulheres e raparigas.
Numa declaração conjunta na quarta-feira, a União Europeia e os Estados Unidos disseram estar "profundamente preocupados" com a situação das mulheres no Afeganistão, apelando aos talibãs para evitar "todas as formas de discriminação e abuso" e para salvaguardar os seus direitos.
Em julho, a gerente de um salão de beleza de Cabul disse à AFP que esperava ter de o encerrar se os talibãs regressassem ao poder.
"Se eles voltarem, nunca teremos a liberdade que temos agora", temia a gerente, de 27 anos, que pediu para não ser identificada por recear pela sua segurança.
"Eles não querem que as mulheres trabalhem", acrescentou.
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