"Deixámos o Afeganistão por causa dos bombardeamentos e outros problemas que afetaram os muçulmanos. Mas agora, graças a Alá, a situação é normal, por isso estamos a voltar", disse Molavi Shaib à agência France-Presse (AFP).
Shaib é um dos cerca de 200 afegãos que esperam no posto fronteiriço de Chaman, localizado a cerca de 580 quilómetros a sudoeste de Cabul e a mais de 800 do porto paquistanês de Carachi.
No lado paquistanês da "Porta da Amizade", como se lê no arco por onde se atravessa a fronteira, a AFP viu camiões estacionados, carregados de tapetes, lençóis, roupas e até cabras de famílias afegãs que querem regressar a casa.
Aqueles que fugiram da guerra entre o Ocidente e os talibãs nas últimas duas décadas acreditam que os novos líderes do país trouxeram de volta o que mais desejam: a paz.
"Agora, a paz foi restaurada", disse Muhammad Nabi à AFP.
A fronteira entre Chaman e a cidade afegã de Spin Boldak é o principal ponto de entrada e saída de mercadorias no sul do Afeganistão, permitindo o acesso do país sem mar ao porto paquistanês de Carachi.
Com uma vala de três metros de profundidade cheia de arame farpado, esta fronteira é usada por milhares de pessoas todos os dias.
Com a ofensiva talibã, o Paquistão reforçou os controlos e a segurança na fronteira, tornando por vezes difícil a sua passagem.
"Temos as nossas coisas, as nossas mulheres e crianças estão à espera. Queremos atravessar, mas não nos é permitido fazê-lo. Estamos a pedir ao governo paquistanês que nos permita atravessar porque já não há guerra", acrescentou Muhammad Nabi.
Quase dois milhões de afegãos fugiram para o Paquistão durante as últimas quatro décadas de guerra no Afeganistão.
No Paquistão, segundo a AFP, muitos refugiados afegãos têm-se sentido indesejados e discriminados.
Nos últimos 20 anos, o agora antigo regime pró-ocidental de Cabul acusou repetidamente Islamabad, que historicamente tem estado próximo dos talibãs, de apoiar e acolher o movimento rebelde.
Os afegãos que aguardam na fronteira o regresso a casa dizem que esperam uma vida melhor no Afeganistão.
Wali Ur Rahman é de Ghazni, uma província do sul do Afeganistão com uma população predominantemente pashtun, o grupo étnico de origem dos talibãs e que foi palco de confrontos, e mostrou-se feliz por estar de volta.
"Lá estaremos muito melhor", disse Wali Ur Rahman à AFP.