"Esta afirmação, para mim, é muito forte e violenta, não sei com que base" é feita, afirmou Leão.
O antigo diretor-geral do SISE respondia ao Ministério Púbico, que instou o arguido a pronunciar-se sobre a acusação de que usou a mulher e arguida Ângela Leão como "testa de ferro" para receber 8,9 milhões de dólares (7,6 milhões de euros) de subornos pagos pela companhia de estaleiros navais Privinvest.
A acusação considera que Gregório Leão recebeu o valor pelo seu papel na emissão de garantias que permitiram a mobilização do dinheiro das "dívidas ocultas".
"Para mim, esta afirmação tão categórica tem que ser provada", rebateu Leão.
Confrontado pelo Ministério Público com depósitos da Privinvest em contas da MMoçambique Construções, empresa que fazia obras para a família Leão, o antigo diretor do SISE disse que não conhece a firma.
"Eu não conheço a MMoçambique Construções, nunca trabalhei com MMoçambique Construções", enfatizou.
Confrontado com alegadas provas da compra pelo casal de um imóvel por 900 mil dólares (770 mil euros) supostamente com dinheiro dos referidos subornos, Gregório Leão admitiu ter vivido na casa, mas a título de arrendamento, após cessar funções de diretor do SISE em 2016.
Leão disse ao tribunal que a mulher é que tratou do contrato de arrendamento, enquanto ele se encontrava fora do país, em missão de serviço.
Acrescentou que não gostou da residência, porque tinha defeitos e infiltrações de água, tendo pressionado Ângela Leão para a família ir morar numa habitação do casal que começou a ser construída com poupanças que começou a juntar quando ainda era embaixador em Portugal.
Gregório Leão voltou hoje a negar ter recebido qualquer benefício indevido no exercício da sua função de diretor-geral do SISE, tal como tinha dito na segunda-feira, primeiro dia da sua audição pelo tribunal.
Leão é o penúltimo dos 19 arguidos a ser ouvido, faltando ainda interrogar António Carlos do Rosário, antigo presidente das três empresas beneficiárias do dinheiro das dívidas ocultas e antigo diretor da Inteligência Económica do SISE.
A justiça moçambicana acusa os 19 arguidos do processo principal das "dívidas ocultas" de se terem associado em "quadrilha" e delapidado o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pela procuradoria e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.
As 'dívidas ocultas' foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.
Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frelimo, liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.
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