Os radicais islâmicos, que assumiram o poder em Cabul em agosto, enfrentam uma economia debilitada e a iminência de uma grave crise humanitária.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou na segunda-feira o mundo a fazer doações ao Afeganistão para evitar a sua ruína, embora também tenha criticado as promessas "quebradas" dos talibãs em relação às mulheres e raparigas afegãs.
Bruxelas já prometeu ajuda humanitária ao Afeganistão no valor de mil milhões de euros, considerando a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que "o povo afegão não deve pagar pelas ações dos talibãs".
A responsável indicou que o programa de ajuda da União "se destina ao povo afegão e aos vizinhos do país que foram os primeiros a dar-lhe ajuda".
"O pacote inclui os já acordados 300 milhões de euros para fins humanitários" e este apoio "é acompanhado por ajudas adicionais especializadas para vacinação, alojamento, bem como proteção dos civis e direitos humanos", especificou a comissão.
As conversações diretas em Doha entre representantes dos talibãs da UE e dos EUA devem "permitir aos Estados Unidos e aos europeus abordarem problemas", como a liberdade de movimentos para os que desejam deixar o Afeganistão, o acesso à ajuda humanitária e os direitos das mulheres, segundo a porta-voz dos 27, Nabila Massrali.
Insistiu tratar-se de "uma conversa informal, ao nível técnico", que "não constitui um reconhecimento do 'governo interino'" talibã.
O regime talibã ainda não foi reconhecido por qualquer país.
Os talibãs já se tinham encontrado em Doha no sábado com responsáveis norte-americanos para as primeiras discussões diretas com Washington desde que tomaram o poder, tendo o seu chefe da diplomacia apelado aos Estados Unidos para estabelecer "boas relações" e não "enfraquecer o atual governo no Afeganistão".
As discussões com os talibãs têm sido facilitadas pelo Qatar, onde existe há anos um gabinete político do movimento fundamentalista.
Mutlaq al-Qahtani, enviado especial do ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, declarou hoje que a tomada do poder pelos talibãs é uma "realidade" a "ter em conta".
"O mais importante agora é interagir com eles", disse, adiantando que a "prioridade agora é a situação humanitária, a educação e a livre circulação" das pessoas que desejam abandonar o Afeganistão.
Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2001 e derrubaram o regime dos talibãs, em resposta aos atentados de 11 de setembro planeados pela rede terrorista Al-Qaida acolhida no país. As tropas norte-americanas retiraram-se do país no final de agosto, no quadro de um acordo com o movimento radical.
A retomada do poder pelos talibãs levou à retirada do Afeganistão de mais de 100.000 pessoas que temiam maus-tratos ou atos de vingança por parte dos novos senhores do país.
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