O deputado e porta-voz do partido Congresso do Povo (COPE, na sigla em inglês), na oposição, Dennis Bloem, considerou que o Governo sul-africano "deve assumir a total responsabilidade por estar a fazer política com a segurança do país".
"É outro sinal claro de que a África do Sul se está a transformar rapidamente num Estado falhado", disse o deputado sul-africano na oposição citado pela imprensa local.
"O Governo do ANC falhou em liderar este país", frisou.
Já o membro suspenso do Congresso Nacional Africano (ANC), ex-porta-voz do partido e da Associação de Veteranos Militares do Umkhonto weSizwe (MKMVA), antiga ala armada do partido no poder, Carl Niehaus, acusou o Governo de abandonar os seus ex-combatentes de libertação.
"A crise que eclodiu ontem à noite com a suposta situação de refém de dois ministros e um vice-ministro estava para acontecer há muito tempo", salientou Niehaus.
De acordo com Carl Niehaus, que é próximo do ex-Presidente Jacob Zuma, o ANC governante "falhou" aos seus ex-combatentes, que, na sua ótica, "têm sido maltratados há muitos anos".
"Têm por direito exigirem emprego, habitação, assistência médica, nomeadamente se atendermos à forma como foram tratados na integração no SANDF [Forças Armadas da África do Sul] e SAPS [Polícia da África do Sul]", salientou Niehaus.
Os ministros da Defesa Thandi Modise e da Presidência sul-africana, Mondli Gungubele, foram resgatados ontem à noite por forças especiais da Polícia sul-africana, auxiliados pela polícia militar, depois de terem sido feitos reféns durante cerca três horas por cerca de 30 ex-combatentes de antigos movimentos de libertação, numa operação em que ficaram feridas três pessoas e foram detidas 56 pessoas, segundo a polícia sul-africana.
A delegação ministerial integrava ainda o vice-ministro da Defesa, Thabang Makwetla.
O grupo de trabalho presidencial para os assuntos dos ex-combatentes de libertação, criado pelo Presidente da República Cyril Ramaphosa sob a coordenação do vice-presidente David Mabuza, reuniu-se num hotel em Irene, arredores da capital sul-africana, Pretória, com os Veteranos de Guerra de Luta de Libertação (LSWV, na sigla em inglês) para ouvir as suas revindicações.
A organização de ex-combatentes integra membros de vários grupos armados de movimentos nacionalistas que lutaram contra o anterior regime do apartheid, incluindo o Umkhonto weSizwe (MK), do Congresso Nacional Africano, o Exército de Libertação do Povo da Azania (Apla) e o Exército de Libertação Nacional da Azania (Azanla).
"O facto de Mabuza não ter comparecido à reunião que foi marcada para se realizar em St. Georges, em Irene, precipitou os acontecimentos", frisou Niehaus, salientando que "estamos profundamente preocupados com a maneira como o Governo respondeu e recorreu à força para os prender".
"Há três membros que estão feridos, devido às granadas de atordoamento usadas pelas forças especiais, tudo isso é inaceitável", explicou.
"Em vez de usar a força, o Governo e o ANC deveriam ter sido sensíveis à frustração que se acumulou, pedimos ao governo que os libertem e que se envolvam com os ex-combatentes", disse Niehaus.
Segundo Niehaus, os ex-combatentes exigiram também a presença do Presidente Ramaphosa, que é também presidente do ANC, o partido no poder na África do Sul.
Por seu lado, o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA, na sigla em inglês), Irvin Jim, considerou o relacionamento entre o Governo sul-africano do ANC e os seus ex-combatentes como "a liquidação total da luta de libertação".
"O Governo de Ramaphosa vive na sua própria bolha e está afastado do sofrimento das mesmas pessoas que deveria servir", declarou Irvin Jim.
No início da semana, o grupo de ex-combatentes realizou uma manifestação de protesto junto à sede nacional do ANC, em Joanesburgo, levando à evacuação do edifício pelo partido no poder.
Em março do ano passado, várias lojas de comerciantes estrangeiros foram pilhadas e vandalizadas com explosivos, na cidade portuária de Durban, litoral da África do Sul, por membros do Congresso Nacional Africano afetos ao LSWV e ao MKMVA.
O LSWV também está alegadamente envolvido na violência contra motoristas de pesados que eclodiu após a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma, em julho, segundo a imprensa sul-africana.
Leia Também: Ministro condena violência xenófoba no sudeste da África do Sul