Olhando para a 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), a decorrer em Glasgow, e os compromissos já anunciados sobre o fim faseado do carvão como fonte de energia, a redução das emissões de metano ou o combate à desflorestação, Monbiot diz que são "irrelevantes e uma distração".
"Tivemos 26 destas reuniões e ainda não falaram sobre deixar os combustíveis fósseis [como petróleo e gás natural] no solo. Isso mostra como eles não querem falar sobre a tarefa mais importante, a coisa fundamental que deve ser feita. A razão é porque o poder das empresas de combustíveis fósseis na política continua muito grande", denunciou, em entrevista à agência Lusa.
Na sua opinião, "tudo o que precisamos já existe", nomeadamente as tecnologias necessárias para a transição para uma economia de baixo carbono, e "a pandemia mostrou que, se os governos quiserem criar dinheiro, eles podem fazê-lo".
A pressão para fazer os políticos tomarem as decisões necessárias, diz o escritor, terá de ser pela pressão popular em grande escala, de uma forma democrática, elogiando Fridays for Future, Sunrise Movement, Green New Deal Rising e Extinction Rebellion e as ações de desobediência civil.
"Mas precisamos ver esses movimentos 100 vezes maiores do que eles, precisamos ver uma mobilização em massa a uma escala que o mundo nunca viu antes e que torne quase impossível aos governos não responder", insiste o autor de "Calor - Como Impedir o Planeta de Arder".
"Foi assim que os homens conseguiram voto no século XIX, as mulheres conseguiram voto no século XX, o movimento dos direitos civis obteve os direitos das pessoas de cor e como países se tornaram independentes. Foi por meio da mobilização popular, e é isso que muda a política", vinca.
Formado em zoologia, começou por trabalhar em documentários para a BBC antes de se dedicar ao jornalismo de investigação e à escrita de livros, tendo-se também destacado pelo ativismo político e ambiental.
Em 1995, Nelson Mandela entregou-lhe o prémio Global 500 das Nações Unidas por contribuições excecionais para o ambiente, já foi considerado uma das 25 pessoas mais influentes do Reino Unido e escreve regularmente para o jornal The Guardian.
Em 2010 criou um 'site' que recolheu mais de dez mil euros de recompensa a quem tentasse ou efetuasse uma detenção civil do ex-primeiro-ministro Tony Blair pelo papel na invasão do Iraque, dois anos depois de tentar fazer o mesmo ao antigo vice-secretário de Estado norte-americano John Bolton durante um festival literário.
Recentemente, escreveu na rede social Twitter que, se viver mais 50 anos, existe uma "probabilidade elevada de testemunhar um colapso ambiental sistémico" semelhante ao final do período Pérmico, quando os dinossauros e quase todos os animais de grande dimensão foram extintos.
"A atmosfera, os oceanos, o solo, a biosfera. Todos esses são sistemas complexos. Eles absorvem pressão até certo ponto e depois, quando não aguentam mais, eles invertem para um estado diferente. E um sistema pode derrubar outro, que pode então derrubar outro e podemos ser confrontados com algo como o que aconteceu há 250 milhões de anos atrás", explicou.
Isto pode ser evitado se houver "mudança imediata e drástica", acredita, e esta deve ser conduzida pelos jovens.
"A menos que tomemos essa ação imediata e drástica, a geração da Greta vai ver o planeta a tornar-se inabitável. A voz de David Attenborough e de todas as gerações são importantes, mas precisamos de ser conduzidos acima de tudo pelas vozes dos jovens", confia.???????
Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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