Esquecida na campanha, pandemia testa novo governo alemão
O novo governo alemão vai enfrentar um "enorme desafio" no arranque de funções, já esta semana, o primeiro "grande teste" apresentado pela pandemia de covid-19, tema esquecido durante as negociações da nova coligação, de acordo com analistas.
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Mundo Alemanha
O politólogo Edgar Grande assume que o novo executivo alemão teve um começo difícil ao apresentar-se ao público em plena quarta vaga da pandemia no país, com o número de casos a crescer, e os hospitais sobrecarregados ou já completamente saturados.
Como consequência, alertou o diretor e fundador do Centro de Investigação da Sociedade Civil, que integra o Centro de Ciências Sociais de Berlim (WZB), "a atenção do público estava virada para as medidas, novas regras para enfrentar a pandemia", deixando o novo programa "um pouco na sombra."
O parlamento federal alemão procederá, a 8 de dezembro, à eleição para o cargo de chanceler do social-democrata Olaf Scholz, que lidera uma coligação inédita a nível federal, incluindo o SPD, os Verdes, e os liberais do FDP.
"É um enorme desafio para este novo governo. Terá de começar com a gestão da crise provocada pela pandemia de covid-19. As pessoas estão à espera de perceber como é que o executivo vai lidar com esta situação", disse o politólogo Uwe Jun, em declarações à agência Lusa.
"Será a ocupação das próximas semanas. (O novo governo) não terá tempo para olhar para outras políticas ou medidas", sublinhou o professor de Ciências Políticas, e diretor do Instituto para a Democracia e Investigação Partidária de Trier (Trierer Institut für Demokratie -- und Parteienforschung).
A ainda chanceler, Angela Merkel, e o sucessor, Olaf Scholz, juntamente com os líderes dos 16 estados federados alemães concordaram na passada quinta-feira em ampliar restrições aos mais de 14 milhões de pessoas não imunizadas. Não vacinados ou não recuperados passam a estar impedidos de fazer compras em lojas não essenciais.
"Um dos problemas que tivemos no último ano, foi uma queda de confiança no governo. Essa é uma das razões apontadas para os números atuais da vacinação não serem tal altos como suposto", apontou Edgar Grande, lembrando que a vacinação obrigatória será também votada no Parlamento.
"No Verão, ninguém esperava que a vacinação viesse a ser debatida, ou que o número de infetados aumentasse tanto. Na campanha eleitoral, a pandemia não foi tema. Nas negociações da coligação também não. No acordo de coligação, só no final encontramos algumas questões institucionais e organizacionais", acrescentou à agência Lusa.
Edgar Grande realça que a coligação foi negociada "como se não existisse pandemia", sendo de esperar algumas consequências na implementação do novo programa, "principalmente na parte financeira", considerada por muitos a mais fraca do novo acordo de coligação "semáforo".
A principal medida, para já imposta na Alemanha, é a ampliação da regra "2G" -- "geimpft" (vacinados) e "genesen" (recuperados). Ou seja, proibir os não vacinados de entrar em restaurantes, cafés, teatros, cinemas e outros lugares fechados de entretenimento ou cultura.
Os três partidos apresentaram um programa que dá destaque a pontos como a crise climática, o combate à pandemia, reforço das relações europeias, o aumento do salário mínimo, o envelhecimento da sociedade e transição digital, entre outros.
"Há uma clara intenção de conseguir uma transformação política, um sinal bem recebido pelo publico e pelos media. Claro que houve críticas pela CDU, mas isso é o esperado da oposição. Em geral, penso que conseguiram cumprir grande parte das expectativas", considerou o politólogo Edgar Grande.
"Os três partidos sublinharam que não estão juntos por não haver alternativas, mas sim por ter sido feito um esforço considerável para conseguir um programa conjunto e ambicioso para transformar a Alemanha na próxima década", apontou Grande.
Para o politólogo Benjamin Höhne, a conferência de imprensa de apresentação do programa do novo governo foi precedida por conversações de negociação "relativamente breves e aparentemente bem estruturadas".
"Os três partidos reunidos sublinharam a sua agenda com o lema 'Ousar Fazer Mais Progressos'. A meu ver, essa é uma agenda convincente e unificadora, que permite que diferenças entre as partes fiquem em segundo plano", acrescentou.
Ainda assim, o vice-diretor do Instituto de Pesquisa Parlamentar (IParl) destacou que a situação de pandemia é "cada vez mais séria", o que pode complicar o desenvolvimento da situação.
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