O Presidente, conhecido como Farmajo, "tentou tomar as instituições civis constitucionais pela força militar", denunciou a oposição num comunicado em que exigiu que o chefe de Estado deixasse a Villa Somalia, a residência presidencial.
A declaração do conselho emerge num contexto de tensão política crescente no país do Corno de África, que se agravou na segunda-feira, quando Farmajo suspendeu Roble das suas funções até à conclusão de uma investigação de um caso de corrupção em que está alegadamente envolvido.
Após o anúncio do Presidente, um destacamento militar em Mogadíscio tentou impedir na segunda-feira o primeiro-ministro de entrar nos seus escritórios no complexo de Villa Somalia.
Hoje, entretanto, várias áreas estratégicas da capital do país, nomeadamente em torno do palácio presidencial, foram ocupadas por soldados fortemente armados leais ao primeiro-ministro.
Roble acusou, entretanto, Farmajo de tentar "agarrar-se ilegalmente ao seu gabinete" e ordenou ao Exército que obedecesse apenas a ordens do Governo.
"Uma vez que o Presidente, aparentemente, decidiu destruir as instituições governamentais (...), dou ordens a que todas as forças nacionais somalis trabalhem a partir de hoje sob o comando do gabinete do primeiro-ministro", anunciou Roble, numa conferência de imprensa.
O gabinete de Roble considerou na rede social Twitter a decisão do Presidente somali como "uma tentativa falhada de assumir militarmente o gabinete do primeiro-ministro" e "uma violação da Constituição e de outras leis".
Entretanto, a Equipa Federal de Implementação Eleitoral (FEIT, na sigla em inglês) lamentou hoje a "interferência flagrante de membros do Governo federal da Somália" no seu trabalho.
No domingo, os dois líderes tornaram públicas as suas divergências sobre a organização das eleições, que já deviam ter sido realizadas.
A Presidência somali disse que Roble "representa uma séria ameaça ao processo eleitoral e ultrapassa o seu mandato". O gabinete do primeiro-ministro respondeu, alegando que Farmajo gastou "muito tempo, energia e finanças a frustrar as eleições nacionais", e que estava "a fazer descarrilar o processo eleitoral".
Embora o prazo para a Somália completar as suas eleições parlamentares fosse 24 de dezembro, até agora menos de 30 dos 275 deputados da Câmara Baixa do parlamento somali foram eleitos desde o início do escrutínio em 01 de novembro.
Os 54 senadores da Câmara Alta do parlamento já foram nomeados nos estados que compõem o país.
As eleições presidenciais na Somália estavam marcadas para 10 de outubro, mas não foram realizadas devido a desacordos políticos.
O mandato do Presidente somali expirou em 08 de fevereiro e a 12 do mesmo mês a Câmara Baixa votou a sua prorrogação por dois anos, decisão que o Senado rejeitou alegando a sua inconstitucionalidade por falta de aprovação das duas câmaras.
A situação está na origem de profunda crise política, com vários picos de intensidade até agora. Em 25 de abril, fações opostas do Exército entraram em confronto aberto em Mogadíscio, que provocou, pelo menos, 13 mortos e 22 feridos, a maioria dos quais militares, segundo a confirmação de fontes médicas à agência Efe.
No final de abril, Farmajo anunciou que desistia do prolongamento do seu mandato e deu a Roble instruções para que liderasse a preparação e concretização das eleições.
"Alguns círculos políticos e líderes tradicionais iniciaram conversações com ambas as partes para desanuviar a crise, mas os esforços ainda estão em curso", segundo disse hoje um funcionário do gabinete presidencial, citado pela agência France-Presse.
A secção de África do Departamento de Estado norte-americano disse na segunda-feira que Washington está "preparada para intervir contra aqueles que obstruírem o caminho para a paz na Somália".
"A tentativa de suspensão de @MohamedHRoble é perturbadora e apoiamos os seus esforços para realizar eleições antecipadas e credíveis", fez saber o Departamento de Estado no Twitter, em que apelou também a "todas as partes para evitarem uma escalada nas ações e declarações".
Os aliados da Somália - incluindo a missão das Nações Unidas na Somália, Amisom, Estados Unidos da América, União Europeia e ONU - também expressaram "profunda preocupação" com a situação numa declaração conjunta na segunda-feira à noite.
A Somália encontra-se mergulhada em conflitos e no caos desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de senhores da guerra e milícias islâmicas como a Al-Shabab.
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