Restrições travam festas de passagem de ano na ilha de São Vicente
Grupos organizados que habitualmente organizam eventos de passagem de ano na ilha cabo-verdiana de São Vicente lamentaram hoje o prazo do anúncio de limitações às festas, feito pelo governo esta semana alegando o agravamento da pandemia.
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Mundo Covid-19
"O anúncio em cima do dia do evento nos apertou muito porque já tínhamos preparado a festa e por isso o momento para nós não foi o adequado. Algumas pessoas que foram realizar os testes e que já tinham adquirido bilhete, grande parte emigrantes, testaram positivo e por isso não iriam conseguir aparecer", disse à Lusa Olavo Tolentino, responsável pelo grupo Walt, que tinha programado a passagem de ano com concerto ao vivo num dos hotéis do Mindelo.
Cabo Verde regressou na terça-feira à situação de contingência face ao aumento de casos de covid-19, exigindo teste negativo para o acesso a eventos, reduzindo drasticamente as suas lotações e proibindo festas de passagem de ano nas ruas.
"É para o bem da saúde de todos, é para o bem da proteção do emprego, do rendimento e da atividade económica que o Governo toma estas medidas, na convicção de que se não agirmos agora, será pior para todos", afirmou o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, numa mensagem ao país a partir do Palácio do Governo, na Praia, em que anunciou as novas medidas.
Na ilha de São Vicente são habituais as festas de passagem de ano na rua, o que este ano fica proibido.
O país voltou a bater o recorde de casos diários de infeção pelo novo coronavírus, com 791 só na quinta-feira, mas não regista qualquer óbito há 28 dias, segundo dados do Ministério da Saúde.
De acordo com o boletim epidemiológico diário, os laboratórios cabo-verdianos analisaram em 24 horas um recorde de 3.017 amostras, diagnosticando 791 casos de infeção, o que se traduz numa taxa de positividade de 26,2%.
"O número ideal costuma ser de 500 pessoas e era para este valor que este ano apontávamos", lamentou Olavo Tolentino, apontando que a situação gerou "avultados prejuízos" para este grupo de São Vicente, que ainda tentou comparticipar a realização de testes de despiste à covid-19 para os participantes.
"Teremos que arcar com as consequências e honrar com os compromissos assumidos", desabafou.
Outro caso é o da também tradicional festa de fim de ano na rua de Lisboa, emblemática artéria do Mindelo e que tinha sido anunciada pela Câmara de São Vicente.
Paulo Neves, técnico de som do evento, já ultimava a festa quando a notícia foi conhecida.
"Não é que não concorde com a medida, porém o 'timing' não foi o adequando, a três dias do final do ano. A medida tinha que ser tomada em início de dezembro porque quem realiza um evento nesta altura já tem tudo montado e toda a gente já tinha planos traçados e em andamento para o final do ano, com as despesas programadas e de um momento para o outro o Governo anuncia estas medidas", contou à Lusa.
Além da desilusão da festa de passagem de ano cancelada, Paulo Neves recorda que já leva quase dois anos sem poder trabalhar durante a pandemia, voltando a temer pelo futuro.
"Antes da pandemia costumava fazer quatro a cinco grandes eventos por mês e, em média, três eventos pequenos por semana. Trabalhava por conta própria e não estava preparado para algo assim, como tem sido a pandemia. Tenho três filhos, dois estão a estudar e tenho muitas despesas, mas durante a pandemia quando estavam proibidos eventos não tinha de onde tirar para me manter, já que não tinha trabalho", explicou o técnico, com quase 30 anos de atividade e que se queixa de não ter recebido qualquer apoio do Estado.
Depois da abertura dos eventos, relata que começou a ter melhores perspetivas, já que começou a receber convites para eventos, mas essa "alegria" não durou muito: "Vamos ver o que vai acontecer daqui para a frente e esperamos que as coisas melhorem".
Todo o país estava em situação de alerta - o nível menos grave de três previstos na lei que estabelece as bases da Proteção Civil -- desde 28 de outubro, mas o aumento exponencial de novos casos de covid-19 nos últimos dias, em máximos diários desde setembro, e quando regista um Rt de 2,52, levou o Governo a aumentar um nível, apertando as regras.
Sobre a proibição da realização das habituais festas de passagem de ano na rua, o primeiro-ministro afirmou tratar-se de uma medida "imposta pela situação de agravamento do registo da taxa de incidência da covid-19" e para "evitar o alastramento da doença, evitar a pressão sobre o serviço nacional de saúde e evitar efeitos danosos sobre a economia, nomeadamente o emprego e o rendimento das pessoas".
"A realização de espetáculos só é permitida mediante a apresentação obrigatória de RT-PCR ou de antigénio válido com resultado negativo. Além disso, é obrigatória a apresentação de certificado de vacinação covid-19 ou de recuperação, com segunda dose de vacina", acrescentou.
Fora dos espaços públicos, casamentos, batizados, festas ou eventos de celebração do Ano Novo com número de participantes superior a 40 pessoas "só são permitidos mediante apresentação obrigatória de teste PCR-RT ou antigénio válido com resultado negativo, além de ser necessária a apresentação de certificado de vacinação covid-19 ou de recuperação, com segunda dose de vacina administrada".
"Convívios nas residências particulares podem acontecer no contexto familiar, preferencialmente entre os cohabitantes testados e até ao máximo de 20 pessoas. Quer dizer, pessoas que pertencem à mesma família. Isto é importante para minimizar o impacto dos contágios da covid-19", sublinhou.
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