A morte, em 30 de novembro, de Sylvester Oromoni abalou o país mais populoso de África, e tomou uma dimensão nacional após a difusão nas redes sociais de um vídeo, que mostrava o rapaz a gritar numa cama de hospital, provocando reações até da Presidência da República nigeriana.
A família afirma que o filho foi forçado a ingerir um líquido tóxico por alguns dos colegas de turma, e que os responsáveis estão protegidos. A escola diz não ter havido qualquer encobrimento e que está a cooperar com os investigadores.
As autoridades locais encerraram o internato, frequentado por crianças de famílias ricas e influentes, até nova ordem.
O Presidente, Muhammadu Buhari, já apelou, em comunicado, para que a polícia "chegue ao fundo" sobre a morte do rapaz.
O caso começou em 22 de novembro, quando funcionários do Dowen College, na cidade de Lagos, telefonaram aos pais de Sylvester e pediram para irem buscá-lo à escola, porque se tinha lesionado num tornozelo no dia anterior durante um jogo de futebol, segundo explicou a família à agência de notícias francesa AFP.
Inicialmente, o rapaz também disse ter-se lesionado, mas à medida que o seu estado de saúde se deteriorava em Warri, a sua cidade natal no sudeste da Nigéria, onde foi finalmente internado no hospital, a família começou a ter dúvidas.
Sylvester tinha sido assediado um mês antes, espancado por colegas de escola, que ameaçavam "matá-lo", disse à AFP o seu irmão mais velho, Keyness Oromoni.
"Perguntei-lhe: 'Não pode ser apenas futebol, o que te aconteceu, diz-me', mas ele não disse nada, estava apenas a chorar e parecia estar a sofrer tanto", afirmou aquele irmão da vítima.
Em 29 de novembro, um dia antes da sua morte, finalmente, o rapaz afirmou que cinco rapazes entraram no seu quarto à noite, intimidando-o e forçando-o a beber um líquido químico, acrescentou a família.
Numa declaração, os responsáveis da escola dizem que a família os chamou no mesmo dia para os informar das acusações.
"Lançámos então imediatamente uma investigação interna... Infelizmente, mal tínhamos avançado quando o frenesim dos meios de comunicação social começou", disse o conselho escolar num comunicado, acrescentando que estava a cooperar com as autoridades e que estava empenhado em ver a justiça ser feita.
Casos de bullying escolar que resultam em morte não são raros na Nigéria e os perpetradores raramente são levados à justiça.
A imprensa relata frequentemente casos de alunos e estudantes que se envolvem ou coagem outros a práticas violentas.
"Se este incidente for de facto o resultado de intimidação ou culto [bullying]", disse um porta-voz do Presidente Buhari, numa declaração, "deve servir como um gatilho para abordar este problema recorrente".
Em 07 de dezembro, cinco adolescentes e três guardas foram finalmente presos, mas todos foram libertados sob fiança alguns dias mais tarde.
Os resultados de uma autópsia, realizada em Lagos, dizem que "não há provas que provem um caso de tortura, intimidação e ingestão forçada de substâncias tóxicas", disse o chefe da polícia local, Hakeem Odumosu, na semana passada.
Mas os resultados de outra autópsia, realizada no estado do Delta, onde o aluno morreu, são diferentes.
Uma cópia do relatório da autópsia, a que a AFP teve acesso, mostra "flancos e costas feridos" e descreve a causa da morte como "lesão pulmonar aguda", devido a "intoxicação química num contexto de traumatismo craniano".
Contactados pela AFP, os advogados que representam os cinco adolescentes não falaram e a escola também se recusou a responder.
A investigação foi retomada em 15 de janeiro, e os tribunais pediram às várias partes que se abstivessem de fazer declarações à imprensa até ao final da investigação.
Mas, contactada na semana passada, a família do aluno, apoiando-se no relatório da autópsia realizada em Delta, alegou que houve uma tentativa de encobrir um crime.
"Com cinco famílias a juntarem-se para tentar matar o caso, com a escola e o governo enredados, quase não há hipótese de lutarmos", disse a irmã do rapaz que morreu, Annabel Oromoni, à AFP por telefone a partir do Canadá, onde vive.
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