"Vamos dar-lhes uma oportunidade", declarou à imprensa a ministra dos Negócios Estrangeiros do Gana, Shirley Ayorkor Botchwey, no final da segunda cimeira extraordinária da CEDEAO para examinar o golpe no Burkina Faso, realizada hoje em Acra.
A ministra ganesa salientou que foram feitos pedidos aos militares golpistas.
"Os pedidos foram feitos. Os chefes de Estado vão voltar a reunir-se para decidir se seguem o caminho das sanções ou outra abordagem", afirmou, destacando que é necessária "uma transição muito curta", de "algumas semanas".
Da mesma forma, Botchwey, cujo país detém a presidência rotativa da CEDEAO, recordou a ameaça 'jihadista' no Burkina Faso, país que faz fronteira com quatro Estados costeiros da África Ocidental aos quais deve ser impedido o acesso aos terroristas.
No discurso de abertura da cimeira extraordinária, o atual presidente e chefe de Estado ganês, Nana Akufo-Addo, alertou para o "contágio" de golpes na região após a tentativa falhada na Guiné-Bissau há dois dias e os bem-sucedidos golpes, desde agosto de 2020, no Mali, Guiné-Conacri e Burkina Faso.
Akufo-Addo afirmou que se trata de uma "tendência perigosa" que deve ser enfrentada "coletivamente e decisivamente, antes que varra toda a região".
Na sua primeira mensagem ao país, através da televisão nacional, o líder dos golpistas burquinabês, tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba, pediu à comunidade internacional que apoie o Burkina Faso "para que possa sair da atual crise o mais rápido possível e retomar a sua via para o desenvolvimento".
Na mesma ocasião, alertou que a "normalidade constitucional" só voltará quando as condições estabelecidas pelo povo burquinabê forem cumpridas.
A CEDEAO tinha já realizado uma cimeira extraordinária a 28 de janeiro, para analisar a situação após o golpe perpetrado quatro dias antes, na qual os seus líderes decidiram suspender a participação do país nas suas instituições e enviar duas missões - uma militar e uma ministerial - à capital daquele Estado, Ouagadougou, para falar com os autores do golpe de Estado.
Os militares tomaram o poder no Burkina Faso, no dia 24 de janeiro, após um tiroteio do dia anterior em vários quartéis, em Ouagadougou e outras cidades, incidentes que foram inicialmente descritos como um alegado motim para exigir melhoria das condições nas Forças Armadas.
O golpe foi confirmado depois de membros da junta militar terem aparecido na televisão estatal RTB a anunciar que tinham deposto o Presidente Roch Kaboré, bem como outras medidas, tais como a dissolução do governo e do parlamento e a suspensão da Constituição (que foi parcialmente restaurada a 31 de janeiro).
O Burkina Faso sofre os efeitos de atividades 'jihadistas' desde 2015 e os ataques, atribuídos a grupos aliados da Al-Qaida e do grupo extremista Estado Islâmico, causaram mais de 1,5 milhões de deslocados internos, segundo o governo de Ouagadougou.
Na reunião extraordinária de hoje, os chefes de Estado e de Governo da CEDEAO têm previsto também examinar os desenvolvimentos na Guiné-Conacri e no Mali.
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