Organizações civis dizem-se abandonadas perante "clima de terror"
O presidente da rede da Defesa dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau, Fodé Mané, considerou hoje que a Guiné-Bissau vive "num clima de terror" e que as organizações de defesa dos direitos humanos se sentem abandonados pela comunidade internacional.
© Lusa
Mundo Guiné-Bissau
"Estamos perante um Estado, que para além de não estar em condições de garantir segurança às pessoas, ainda permite que os seus meios e os seus agentes sejam utilizados para criar um clima de terror e de medo. há uma sensação de insegurança, de terrorismo, em que todo o mundo está vulnerável e indefeso neste momento", observou Fodé Mané, em declarações à Lusa.
O jurista falava à margem de uma visita que um grupo de organizações da sociedade civil guineense realizou hoje à jornalista Maimuna Bari, gravemente ferida e internada no Hospital Militar de Bissau, na sequência do ataque à rádio Capital FM, na segunda-feira, por homens armados.
"A comunidade internacional deve reagir rapidamente e de forma clara perante as violações, as ameaças, as detenções ilegais que têm ocorrido na Guiné-Bissau. Estamos a falar de sindicalistas, jornalistas e pessoas que trabalham em questões ligadas aos Direitos Humanos", afirmou Fodé Mané.
Para o presidente da rede de organizações que trabalham na proteção dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau, o que aconteceu com a jornalista Maimuna Bari e com o analista político na rádio Capital FM, o politólogo Rui Landim, cuja residência terá sido atacada na noite de terça-feira, por homens armados, "mostra a vulnerabilidade em que se encontra a sociedade guineense".
Através de um áudio em circulação nas redes sociais, Rui Landim denunciou que a sua residência foi atacada a tiro com armas de fogo e uma granada foi lançada para a parte externa do quarto das crianças.
No áudio, Landim disse que a "pronta intervenção dos vizinhos evitou o pior".
Familiares do também comentador político na rádio Capital FM Luís Vaz Martins indicaram à Lusa que aquele foi aconselhado a esconder-se com receio de ataques contra si.
Um outro comentador político e jurídico, o também advogado e docente universitário Marcelino Ntupé, que colabora com a rádio Bombolom FM de Bissau, denunciou hoje que tem os movimentos vigiados "por pessoas ligadas ao Estado".
Fodé Mané criticou ainda a postura da comunidade internacional por estar a ter "dois pesos e duas medidas" em relação aos guineenses e deu como exemplo a onda de solidariedade demonstrada com as autoridades na sequência dos ataques à sede do Governo.
"O que aconteceu no dia 01 de fevereiro é muito grave, mas a solidariedade que foi prestada ao Governo, ao poder político, não corresponde minimamente com a atenção que está a ser dada às questões de violação dos Direitos Humanos", notou Fodé Mané.
"Mas parece-nos que os parceiros internacionais não estão a colocar a questão dos Direitos Humanos nas suas relações com as autoridades da Guiné-Bissau", considerou.
No dia 01 de fevereiro, homens armados atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam, e de que resultaram oito mortos.
O Presidente considerou tratar-se de uma tentativa de golpe de Estado que poderá também estar ligada a "gente relacionada com o tráfico de droga".
O porta-voz do Governo adiantou no sábado, em conferência de imprensa, que o ataque foi feito por militares, paramilitares e que estarão envolvidos elementos dos rebeldes de Casamança, bem como "personalidades".
O Estado-Maior General das Forças Armadas guineense iniciou, entretanto, uma operação para recolha de mais indícios sobre o ataque, que foi condenado pela comunidade internacional.
Na sequência dos acontecimentos, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou o envio de uma força de apoio à estabilização do país.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de dois terços dos 1,8 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.
Desde a declaração unilateral da sua independência de Portugal, em 1973, sofreu quatro golpes de Estado e várias outras tentativas que afetaram o desenvolvimento do país
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