Kiev desvaloriza alertas ocidentais sobre iminência de ataque russo

A Ucrânia voltou hoje a divergir dos seus aliados ocidentais sobre a iminência de um conflito armado com a Rússia, ao minimizar apelos para a saída de cidadãos norte-americanos do país.

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Lusa
11/02/2022 15:25 ‧ 11/02/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, pediu na quinta-feira aos norte-americanos que deixem a Ucrânia sem demora porque as "coisas podem ficar fora de controlo muito rapidamente".

"Não há nada de novo nesta declaração", comentou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, citado pela agência ucraniana Ukrinform.

"Conhecemos a posição dos Estados Unidos, que já fizeram tais declarações. Começaram com a retirada dos familiares e do pessoal da embaixada. Por conseguinte, esta declaração não indica que a situação tenha mudado dramaticamente", acrescentou Kuleba.

O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, secundou Biden nesse apelo e admitiu hoje, na cidade australiana de Melbourne, que a Rússia pode invadir a Ucrânia durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que decorrem até 20 de fevereiro.

O Departamento de Estado atualizou os alertas de viagem na quinta-feira, pedindo aos norte-americanos que não viajem para a Ucrânia "devido ao aumento das ameaças da ação militar russa".

Quanto aos norte-americanos que estão na Ucrânia, "devem partir agora" pelos seus meios, segundo a recomendação.

"Os cidadãos dos EUA na Ucrânia devem estar cientes de que o governo dos EUA não poderá retirar cidadãos norte-americanos no caso de uma ação militar russa em qualquer parte da Ucrânia", lê-se na recomendação.

Blinken não detalhou as razões que levaram a este alerta de segurança do Departamento de Estado, segundo a agência France-Presse (AFP).

"Em termos simples, continuamos a ver sinais muito preocupantes de escalada russa, incluindo novas forças a chegar à fronteira ucraniana", disse.

Também hoje, durante uma visita à Roménia, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, advertiu hoje que há um "risco real de um novo conflito armado" na Europa.

"O número de tropas russas está a aumentar enquanto os tempos de aviso diminuem", avisou o político norueguês.

Esta não é a primeira vez que as autoridades ucranianas e os seus aliados ocidentais divergem sobre a iminência de uma possível invasão russa.

Kiev chegou mesmo a defender que os meios militares que a Rússia enviou para perto das fronteiras ucranianas não eram ainda suficientes para uma invasão de grande escala.

No final de janeiro, o Presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, disse que mensagens alarmistas de "líderes de países respeitados" sobre a iminência da guerra tinham gerado "pânico no mercado e no setor financeiro".

Este alarmismo prejudicou a Ucrânia em 2.500 milhões de dólares (mais de 2.100 milhões de euros) de investimentos, segundo dados citados então pela agência espanhola EFE.

Zelensky admitiu na altura que Kiev teria de gastar entre 4.000 milhões e 5.000 milhões de dólares (cerca de 3.500 milhões e de 4.300 milhões de euros) das reservas do país para estabilizar a moeda ucraniana, a grívnia.

"É o preço que pagamos pela política informativa desequilibrada", afirmou então.

No início de fevereiro, o ministro das Finanças ucraniano, Serhiy Marchenko, disse que Kiev estava a negociar apoios financeiros com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a União Europeia (UE) e os EUA devido ao medo dos investidores.

"Temos de mudar completamente o foco para empréstimos diretos. (...) Os investidores estão relutantes em comprar as nossas obrigações", justificou.

O Ocidente acusa a Rússia de ter concentrado dezenas de milhares de tropas na fronteira ucraniana para invadir novamente o país, depois de lhe ter anexado a península da Crimeia em 2014.

Moscovo nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desanuviamento da crise a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança, incluindo garantias de que a Ucrânia nunca fará parte da NATO.

Leia Também: Rússia realiza novos exercícios militares perto da fronteira ucraniana

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