Acusações, avanços e recuos, e longas pausas, pontuaram o debate de hoje à tarde no Bundestag (câmara baixa do parlamento) alemão.
A discussão começou com os liberais a pedirem o adiamento da votação que acabou mesmo por acontecer hoje. O projeto de lei da União Democrata Cristã (CDU), liderada por Friedrich Merz, perdeu por uma curta margem: 338 deputados votaram a favor, 350 contra, e cinco abstiveram-se.
A votação aconteceu dois dias depois da moção apresentada pela CDU, não vinculativa, ter sido apoiada pela maioria, contando com os votos a favor da extrema-direita e dos liberais. Seguiram-se vários protestos que têm vindo a subir de tom.
A proposta de Merz assentava em cinco pontos que incluíam a proibição de imigrantes sem documentos válidos e o controlo permanente em todas as fronteiras da Alemanha.
Na quinta-feira, manifestantes juntaram-se em mais de 50 cidades alemãs, com cerca de 13 mil pessoas a concentrarem-se em frente à sede da CDU, em Berlim, que chegou a ser evacuada. Também a antiga chanceler, Angela Merkel, quebrou o silêncio para distanciar-se da decisão dos conservadores.
O debate de hoje à tarde no Bundestag está mesmo a ser apelidado de "brutal" e "tóxico" pelos meios de comunicação alemães. Na origem do tema, e da moção de confiança da CDU que consistia em cinco pontos, estão vários atos de violência recentes envolvendo estrangeiros.
Entre eles, um esfaqueamento em Aschaffenburg, na semana passada, um ataque num mercado de Natal em Magdeburg, que matou seis pessoas em dezembro, e um outro esfaqueamento em Solingen, no verão passado, em que morreram três pessoas. Estes incidentes violentos têm acentuado a discussão sobre o tema das migrações.
Nas reações à votação de hoje, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) fala de uma implosão da CDU, prometendo, mais uma vez, uma "verdadeira mudança na política da migração".
Já Os Verdes e a esquerda alemã reagiram com alívio, sublinhando que existem "grandes fissuras" no centro democrático.
As sondagens para as eleições legislativas antecipadas de 23 de fevereiro atribuem à AfD, um partido nacionalista e anti-imigração, mais de 20% das intenções de voto - o dobro do que obteve nas anteriores eleições, em 2021. É apenas ultrapassada pelos conservadores, aos quais são atribuídas cerca de 30% das intenções de voto no escrutínio.
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