Além da verba de 64 milhões de euros, a Remington, que fabricou a espingarda estilo Bushmaster AR-15 utilizada no massacre de 2012, concordou também em permitir que as famílias libertassem numerosos documentos obtidos durante o processo, incluindo os que mostravam como a arma era comercializada, divulgaram hoje as famílias.
As famílias e um sobrevivente do tiroteio processaram a Remington em 2015, alegando que a empresa nunca deveria ter vendido uma arma tão perigosa ao público, e disseram que o seu foco era prevenir futuros tiroteios em massa.
"Hoje não se trata de honrar o nosso filho Benjamin. Hoje trata-se de como e porque o Bem morreu. Trata-se do que é certo e do que está errado. O nosso sistema jurídico deu-nos alguma justiça hoje, mas eu e o David nunca vamos ter uma verdadeira justiça. A verdadeira justiça seria o nosso filho de quinze anos saudável e aqui connosco", afirmou Francine Wheeler, cujo filho de seis anos foi morto no tiroteio.
O caso no tribunal civil de Connecticut centrou-se na forma como a arma de fogo utilizada pelo atirador foi comercializada, alegando que visava jovens rapazes em risco com o marketing e a colocação de produtos ('product placement') em videojogos violentos.
Num dos anúncios da Remington, aparece a espingarda com um pano de fundo simples e a frase: "Considere o seu cartão de homem redimido".
A Remington tinha argumentado que não havia provas de que o seu marketing tivesse algo a ver com o tiroteio.
A empresa também tinha dito que o processo deveria ter sido arquivado por causa de uma lei federal que concede ampla imunidade à indústria de armas, mas o Supremo Tribunal de Connecticut decidiu que a fabricante poderia ser processada ao abrigo da lei estadual sobre a forma como comercializava a espingarda.
Embora a Remington tenha recorrido ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos, o mesmo recusou-se a ouvir o caso.
O caso foi acompanhado por defensores do controlo de armas, defensores dos direitos das armas e fabricantes de armas em todo o país, porque tinha o potencial de fornecer uma rota para as vítimas de outros tiroteios em massa para contornar a lei federal e processar os fabricantes de armas de fogo.
A Remington, uma das fabricantes mais antigas do país, fundada em 1816, declarou falência pela segunda vez em 2020 e os seus ativos foram vendidos posteriormente a várias empresas, depois de ter sido sobrecarregada por processos judiciais e restrições de venda a retalho na sequência do massacre na escola Sandy Hook.
Quatro seguradoras da empresa agora falida concordaram em pagar o montante total da cobertura disponível, totalizando 73 milhões de dólares (64 milhões de euros), segundo os queixosos.
"Esta vitória deve servir de alerta não só para a indústria de armas, mas também para as companhias bancárias e de seguros que as sustentam. Para a indústria de armas, é tempo de parar de comercializar irresponsavelmente todas as armas a todas as pessoas para todos os usos e, em vez disso, perguntar como é que o marketing pode diminuir o risco em vez de o incentivar", apontou Josh Koskoff, advogado de um dos queixosos.
Adam Lanza, o atirador de 20 anos no tiroteio Sandy Hook, usou a espingarda feita pela Remington e legalmente da propriedade da sua mãe para matar crianças e educadores em 14 de dezembro de 2012, depois ter matado a sua mãe na sua casa, em Newton. Depois, usou uma pistola para se suicidar quando a polícia chegou.
Os graves e deteriorados problemas de saúde mental de Lanza, a sua preocupação com violência e o acesso à arma da mãe "provaram ser uma receita para o assassínio em massa", segundo o defensor da criança do estado de Connecticut.
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