O ministro dos Negócios Estrangeiros admitiu hoje que as sanções sobre a Rússia podem ir "até onde for preciso", garantindo que a União Europeia e Aliados estão preparados para "colocar sanções económicas sobre a Rússia numa escala nunca vista".
Em declarações ao Primeiro Jornal, na SIC, Augusto Santos Silva explicou que isso significa "cortar os meios de financiamento internacional ao Estado russo e prejudicar gravemente a posição da Rússia em matéria de comércio internacional".
"Esperamos não chegar aí mas estamos preparados para chegar se for necessário", admitiu.
Segundo o ministro, as sanções ontem aprovadas são "a primeira resposta a um ato concreto da Rússia", o reconhecimento dos territórios separatistas no leste da Ucrânia, que classificou como "reconhecimento ilegal".
Santos Silva destacou que "a mais importante" dessas sanções "é o facto de nós interditarmos o financiamento, a partir do espaço europeu, do Estado russo, incluindo o Banco Central Russo", subinhando ainda que estas sanções foram concertadas entre União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido.
Sobre a possível aplicação de penalizações a cidadãos russos em Portugal, o governante frisa que "não temos uma política de sanções nacional", mas apenas "europeia", mas lembra, questionado sobre o caso de Roman Abramovich, que, "se tiver ativos financeiros em Portugal, eles são congelados" e que "a interdição de viagens no espaço europeu aplica-se".
Santos Silva concordou também com Joe Biden, que ontem afirmou que está em causa o "início de uma invasão na Ucrânia".
"Nós estamos perante o início. Esperemos que não prossiga", salientou o Ministro dos Negócios Estrangeiros à estação de Paço de Arcos.
"Temos de estar preparados para todos os cenários", afirmou ainda, lembrando que Vladimir Putin nem sempre tem cumprido aquilo com que se comprometeu.
Reposta pode ser militar?
"A Rússia sabe, como todos nós sabemos, que uma agressão militar contra território da NATO representa uma agressão militar contra todos os estados da NATO", lembrou Augusto Santos Silva, explicando porque "depende" se a resposta dos Aliados à Rússia pode ou não ser militar.
O ministro justifica que os países da NATO tenham colocado forças em alerta e enviado navios e aviões de combate para reforçar a defesa na Europa Oriental de uma forma "defensiva".
"A NATO é uma aliança defensiva, não é ofensiva", explica. "Para ter a sua estrutura de defesa preparada, pratica aquilo a que chamamos a sua política de dissuasão."
Sobre de que forma Portugal participa nesses eforços, Santos Silva reitera que o "plano militar é aquele que está previsto e que está aprovado pelo Conselho Superior de Defesa Nacional".
"A nossa Força Aérea está envolvida nas chamadas medidas de tranquilização no nordeste. Neste momento está empenhada na Islândia", começou por dizer, acrescentando que este ano "fazemos parte do segmento de mais alta prontidão da força de resposta rápida da NATO. Em terceiro lugar, estão previstos também exercícios no flanco leste, em países no Mar Negro."
Na segunda-feira, Vladimir Putin ordenou a mobilização do Exército russo para "manutenção da paz" nos territórios separatistas no leste da Ucrânia, que reconheceu como independentes.
Putin assinou dois decretos que pedem ao Ministério da Defesa russo que "as Forças Armadas da Rússia assumam as funções de manutenção da paz no território" das "repúblicas populares" de Donetsk e Lugansk.
Em 2014 a Rússia invadiu o leste da Ucrânia e anexou a Península da Crimeia, território ucraniano.
A guerra no leste da Ucrânia entre as forças de Kiev e milícias separatistas fizeram até ao momento mais de 14 mil mortos, de acordo com as Nações Unidas.
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