Aos 29 anos, a história de Volodymyr volta agora à casa da partida, depois de ter participado na defesa da Ucrânia durante a crise nas repúblicas separatistas de Lugansk e de Donetsk, entre 2014 e 2015, e de entretanto ter regressado à vida civil como marinheiro.
Foi a viajar do Brasil para a Europa que, em pleno oceano, recebeu as primeiras notícias e, mal ouviu o apelo à resistência do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu que o navio o deixasse em Cabo Verde e, a suas expensas, encetou a viagem de regresso à Europa de Leste sem tempo a perder.
"Não é possível discutir a via diplomática, só é possível discutir a destruição dos russos nas aldeias e em toda a parte", defende o antigo militar em conversa com a Lusa em Varsóvia, de onde se prepara para viajar para a fronteira e pegar outra vez em armas e ensinar a população a defender-se.
Apesar da memória de líderes ucranianos "que eram uns idiotas", nomeadamente durante a crise de Donbass, no leste do país, "e de mais uns quantos desde então", Volodymyr, que prefere apenas se identificar pelo nome próprio para proteger familiares bloqueados na Ucrânia (embora a mulher e o filho já estejam em segurança num país vizinho), define-se como um nacionalista e férreo apoiante de Zelensky.
"Adoro o meu país e, mesmo que não tivesse familiares em risco, faria sempre tudo por ele", afirma, e diz mais do mesmo sobre o Presidente ucraniano.
"Inicialmente tínhamos muitas dúvidas, mas na guerra é o grande Presidente da Ucrânia e hoje seria eleito com 100%", avalia, deixando, em sentido oposto, palavras de desprezo a líderes regionais e locais ucranianos apoiantes de Moscovo: "Ou são substituídos por militares, ou são mortos ou entregues à Rússia".
Para Volodymyr, "esses imbecis e traidores" não perceberam que os ucranianos têm problemas, "mas também sabem unir-se" e a resposta da nação aos apelos do seu líder não deviam ser surpresa para ninguém: "Para mim, não foram".
O próprio antigo e futuro militar testou essa união num dos voos de regresso à Europa de Leste, descrevendo que se levantou, quando percebeu que havia mais ucranianos a bordo, e projetou a voz grave para a cabina com um lema patriótico: "Slava Ukraini" [Glória à Ucrânia!" Em resposta ouviu vários passageiros: "Heroiam slava [Glória aos heróis]!"
Do mesmo modo expressa o seu otimismo sobre o desenvolvimento desta guerra e prevê que "a Rússia vai perder".
"Nós é que conhecemos este país, eles não. E já fogem como ratos", reconhecendo ao mesmo tempo que o medo faz parte da guerra.
"Toda a gente tem medo, só os idiotas não têm. Uns controlam-no melhor do que outros, mas tenho a certeza de que todos os ucranianos farão o que é preciso fazer", volta a enfatizar.
No seu caso, Volodymyr ofereceu-se como voluntário para combater, mas faz um apelo a outras formas de luta dentro e fora do país, "mesmo os que já estão salvos", que apoiem não só as suas famílias, mas toda a gente: "Podem ensinar a fazer 'cocktails molotov', podem enviar munições, comida, inundar as redes sociais... Tudo!"
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e mais de 660 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.
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