Voluntários na Polónia com "fé na humanidade, apesar desta desgraça toda"

O acolhimento na Polónia de 1,5 milhões de refugiados ucranianos faz-se com milhares de voluntários de toda a Europa que, como a portuguesa Joana, foram para ajudar e "pela fé na humanidade", "apesar desta desgraça toda".

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Lusa
13/03/2022 20:08 ‧ 13/03/2022 por Lusa

Mundo

Rússia/Ucrânia

"Vim pela fé na humanidade, pela solidariedade que se criou, pela vontade de ajudar, de trazer um pouco da paz que se vive em Portugal", conta Joana, que prefere não revelar o apelido à Lusa, na estação de comboios de Presmyl, no leste da Polónia.

Encostada à Ucrânia, esta é uma estação de chegada de comboios vindos do outro lado da fronteira e nas últimas semanas tornou-se no local de desembarque de meio milhão de pessoas fugidas da guerra, após a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Ao fim de três dias na estação, a ajudar refugiados e a tentar encaminhá-los para centros de acolhimentos e transportes para outras cidades da Polónia e para outros países europeus, Joana, de 39 anos, diz que confirma a sua fé na humanidade: "Chego ao fim do dia esgotada, mas continuo com o coração cheio no meio desta desgraça toda".

Viajou sozinha de Lisboa e quase passou uma noite sem abrigo, à chegada, quando percebeu que o quarto que tinha reservado num hotel tinha sido dado a uma família ucraniana "em emergência".

Foi um taxista, que durante duas horas não a largou, que lhe encontrou alojamento num hotel reservado a militares polacos destacados para a região para darem assistência aos refugiados.

Sentiu assim a solidariedade que a levou á Polónia logo à chegada à região que mais refugiados da guerra na Ucrânia tem recebido. E não mais deixou a sentir: "Neste momento, isto está a funcionar à base da solidariedade dos voluntários a nível internacional", afirma.

As autoridades regionais e locais da Polónia não se cansam de agradecer, quando falam com os jornalistas, a todos as pessoas e organizações, polacas e de outras nacionalidades, que têm acorrido às zonas de fronteira para ajudar naquela que é a maior crise de deslocados no género na Europa desde a segunda guerra mundial.

Segundo as Nações Unidas, perto de 2,6 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia por causa da guerra e 1,5 milhões foram para a Polónia.

Os voluntários estão por todo o lado, nas estações de comboio, nos postos fronteiriços, nos centros de acolhimento. Recebem quem chega, ajudam a transportar malas, dão conforto, cozinham e distribuem refeições, deixam ajuda humanitária, transportam pessoas nos seus carros e carrinhas, esforçam-se em contactos para encaminhar pessoas para outras cidades. As matrículas dos carros e autocarros que se vêm nos acessos a postos fronteiriços, estações de transporte e centros de acolhimento mostram que vêm de toda a Europa.

Joana, através de "uma rede de solidariedade" que foi construindo nos últimos dias, feita de contactos entre portugueses, já conseguiu encaminhar três pessoas para Portugal.

"Se ajudar pelo menos uma pessoa já valeu a pena", diz à Lusa esta portuguesa com "dois filhos pequenos" que está a criar para "esse mundo de solidariedade".

"Tenho de dar o exemplo. Se eu tenho possibilidade, se a minha família está em segurança, se tenho a possibilidade para vir ajudar, eu devo vir ajudar, é um dever", sublinha.

Joana viajará de regresso a Lisboa dentro de alguns dias, mas tem já planeado o regresso à Polónia na próxima semana, com uma associação de ucranianos em Portugal que vai buscar, de autocarro, refugiados a Varsóvia.

Diz que se nota já o cansaço entre os voluntários e teme que isso seja um problema nas próximas semanas para a estrutura de acolhimento que existe neste momento no leste da Polónia.

Também as autoridades locais e regionais temem a capacidade de resposta para a segunda vaga de refugiados que esperam nos próximos dias e têm apelado à ajuda da União Europeia e dos outros país membros na agilização da recolocação de pessoas, como fez este sábado o presidente do governo regional de Podkarpackie, Wladyslaw Ortyl, em declarações a um grupo de jornalistas que recebeu no âmbito de uma iniciativa do Comité das Regiões Europeus.

Falando aos mesmos jornalistas na estação de Prsemyl, o presidente da câmara local, Wojciech Bakun, realçou no mesmo dia que a sua cidade, de 60 mil pessoas, já acolheu e encaminhou em duas semanas meio milhão de refugiados.

"Demos tudo: comida, medicamentos, artigos de higiene, 'tróleis' para as bagagens. Encaminhámos doentes para hospitais. Fizemos tudo o que podemos como cidade, com autoridade local, sem Governo", disse.

Leia Também: 18.º dia. Do bombardeamento a 20 km da Polónia à morte de um jornalista

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