20.º dia. Ucrânia não aderirá à NATO e CE repensa política de Defesa

O Presidente ucraniano reconheceu hoje que o seu país não poderá integrar a NATO, horas antes de receber em Kiev três primeiros-ministros europeus e de a Comissão Europeia anunciar que vai repensar a sua política de Defesa.

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Lusa
15/03/2022 19:26 ‧ 15/03/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconheceu hoje que a Ucrânia não poderá integrar a NATO, uma das exigências da Rússia para terminar a guerra, e disse que os ucranianos estão a tomar consciência dessa impossibilidade.

"Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos dizer que não podíamos aderir. Esta é a verdade e temos de a reconhecer", disse Zelensky.

Enquanto Zelensky falava, os primeiros-ministros da Polónia, Mateusz Morawiecki, da República Checa, Pietr Fiala, e da Eslovénia, Janez Jansa, entravam na Ucrânia, a caminho de Kiev, para se encontrarem com o Presidente ucraniano, anunciaram fontes polacas.

Os três dirigentes, que partiram hoje de manhã de comboio, já se encontram em território ucraniano, informou o porta-voz do Governo polaco, Piotr Müller.

Também o Presidente de França, Emmanuel Macron, anunciou que está a equacionar uma visita a Kiev ou a Moscovo por causa da guerra na Ucrânia, mas rejeitou fazê-la "nos próximos dias" por falta de condições para viajar.

"Não excluo nenhuma viagem, mas não está planeada para as próximas horas ou nos próximos dias", disse Macron depois de ser questionado sobre a ida a Kiev, durante o dia de hoje, dos primeiros-ministros da Polónia, República Checa e Eslovénia.

Certa é a presença do Presidente norte-americano, Joe Biden, em Bruxelas na próxima semana para participar, dia 24, na reunião dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) e na cimeira extraordinária da NATO, devido à guerra ucraniana.

A cimeira ocorre no momento em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu que a guerra ucraniana é um "momento decisivo" para a União Europeia (UE) repensar a estratégia de defesa, anunciando que vai propor "oportunidades de investimento" no setor.

No campo diplomático, a Presidência russa recusou fazer qualquer previsão sobre as negociações com a Ucrânia, depois de um conselheiro do Presidente ucraniano ter admitido a possibilidade de um acordo de paz até maio.

"O trabalho entre as duas delegações continua por videoconferência, é um trabalho complexo, e o facto de continuar já é positivo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Ao mesmo tempo, a Rússia decidiu hoje iniciar o processo de "saída do Conselho da Europa", acusando a NATO e a União Europeia de terem feito daquele organismo um instrumento ao serviço da "sua expansão político-militar e económica a Leste".

"A notificação da retirada da Federação Russa da Organização" foi hoje à enviada à secretária-geral do Conselho da Europa, Marija Pejcinovic Buric, indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo num comunicado.

Entretanto, e com o agravamento dos ataques russos, a capital da Ucrânia vai estar sob recolher obrigatório durante 35 horas a partir das 20:00 locais, anunciou o presidente da câmara, Vitali Klitschko, explicando que Kiev está a passar por "um momento perigoso e difícil".

Klitschko referia-se aos últimos bombardeamentos russos que atingiram bairros residenciais e provocaram a morte de dezenas de pessoas na capital do país.

O presidente da câmara anunciou também que escreveu ao Papa Francisco a convidá-lo para visitar a cidade, atingida pela ofensiva militar da Rússia ou, caso não seja possível, a participar numa videoconferência para enviar uma mensagem à população.

A Rússia tem mais de 40.000 militares das Forças Armadas sírias e combatentes de milícias apoiantes preparados para integrar a invasão à Ucrânia, denunciou hoje o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Na última sexta-feira o Kremlin incentivou a participação de voluntários, ao lado dos militares russos, na invasão ao território ucraniano, incluindo militares e combatentes provenientes da Síria. Moscovo é um dos principais aliados de Damasco.

A Rússia tem alargado a sua zona de ataques e a Força Aérea da Ucrânia denunciou que pelo menos um 'drone' russo sobrevoou a Polónia, o que corresponde a uma violação do território de um Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Numa publicação feita na rede social Facebook, citada pela agência de notícias ucraniana Ukrinform, o porta-voz do Comando da Força Aérea, Yuri Ihnat, denuncia que os radares detetaram pelo menos uma aeronave de reconhecimento não tripulada das Forças Armadas russas que sobrevoou o território polaco.

Do outro lado da barricada, o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, aliado de Moscovo, acusou a Ucrânia de ter lançado um míssil contra o seu território, mas que acabou por ser intercetado e abatido pelos bielorrussos.

O Ocidente prossegue o seu plano de sanções contra Moscovo, e o Conselho da União Europeia (UE) adotou, formalmente, o quarto pacote de medidas económicas e individuais contra a Rússia, que inclui medidas restritivas ao oligarca multimilionário Roman Abramovich, com passaporte português.

A China fez saber que rejeita ser afetada pelas sanções ocidentais contra a Rússia, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, numa conversa por telefone com o homólogo espanhol, José Manuel Albares.

"A China não é parte da crise [ucraniana] e ainda menos quer ser afetada pelas sanções", afirmou Wang, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.

Por outro lado, Pequim disse que a sua posição sobre o conflito na Ucrânia é "completamente objetiva, imparcial e construtiva" e acusou os Estados Unidos de espalharem "desinformação" sobre a possibilidade de Pequim prestar apoio militar a Moscovo.

Ao mesmo tempo, a Rússia anunciou sanções contra o Presidente Joe Biden e vários altos responsáveis norte-americanos, entre os quais o chefe da diplomacia, Antony Blinken, em resposta às medidas punitivas de Washington contra Moscovo relacionadas com a Ucrânia.

Esta medida "é a consequência inevitável do curso extremamente russofóbico seguido pelo atual Governo americano", indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia em comunicado.

Entretanto, soube-se hoje que o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, vai participar na quarta-feira na reunião dos seus homólogos da NATO, bem como representantes da Geórgia, Finlândia, Suécia e União Europeia (UE).

Na frente de batalha no leste da Ucrânia, o aeroporto da cidade de Dnipro registou "forte destruição" na sequência de dois bombardeamentos russos durante a madrugada de hoje, indicaram as autoridades regionais.

"Durante a noite, o inimigo atacou o aeroporto de Dnipro. Dois ataques. A pista de descolagem e aterragem foi destruída. O terminal está danificado. A destruição é enorme", afirmou o governador da região, Valentin Reznitchenko, numa mensagem divulgada na aplicação de mensagens Telegram.

Também, pelo menos duas pessoas morreram hoje num ataque russo contra um edifício residencial de 15 andares, no oeste de Kiev, disseram os serviços de emergência ucranianos.

"Dois cadáveres foram encontrados no local", na sequência do ataque, e 27 pessoas foram retiradas ilesas do edifício, onde deflagrou um incêndio, indicaram aqueles serviços, na rede social Facebook.

Num dos corredores humanitários, cerca de 2.000 viaturas conseguiram sair da cidade ucraniana de Mariupol (leste), cercada há vários dias pelas forças russas e pelos separatistas pró-russos, indicou o município da localidade portuária.

"Outras 2.000 viaturas adicionais estão a aguardar à saída da cidade", acrescentou o conselho municipal de Mariupol, que não precisa quantas pessoas conseguiram fugir desta cidade portuária, onde as condições são catastróficas após vários dias de bombardeamentos e cerco.

Ao fim de quase três semanas de combates, a guerra na Ucrânia provocou pelo menos 691 mortos e 1.143 feridos entre a população civil, incluindo mais de uma centena de crianças, até ao final do dia de segunda-feira, anunciou a ONU.

No seu relatório diário sobre baixas civis, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabiliza 48 crianças mortas e 62 feridas.

O número de pessoas que fugiram da Ucrânia devido à invasão russa atingiu os três milhões, incluindo mais de 1,4 milhões de crianças, segundo um porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Quase a cada segundo, uma criança da Ucrânia torna-se refugiada, anunciou hoje a UNICEF, referindo que o fluxo de pessoas que fogem do país desde a invasão russa, a 24 de fevereiro, tem sido constante.

Nos últimos 20 dias, cerca de 1,4 milhões de crianças foram forçadas a fugir do país, o que representa uma média de cerca de 55 por minuto ou "praticamente uma criança por segundo", avançou o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), James Elder.

Leia Também: AO MINUTO: 3 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia; 100 crianças mortas

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